Polônia se volta contra refugiados após ataques em Paris
A mídia polonesa noticiou nesta semana a história de um cidadão do país que vive na Noruega e foi preso na Polônia por acusações de terrorismo, após ter passado vários meses na Síria lutando junto ao grupo "Estado Islâmico" (EI). O jovem, de 26 anos, foi detido na cidade de Lodz, na região central do país. Um porta-voz da promotoria local afirmou que o homem poderá ser condenado a até seis anos de prisão.
Na esteira dos ataques terroristas em Paris, o caso e o fato de que o EI já estava ativo na Polônia aumentam a ansiedade de cidadãos poloneses em relação à migração de não europeus.
O ex-gabinete liberal da primeira-ministra do país, Ewa Kopacz, havia concordado em acolher 7 mil refugiados. Na época, havia sido destacado que, na década de 1990, 80 mil chechenos encontraram um novo lar na Polônia e foram integrados com sucesso à sociedade do país. Mas isso não convenceu todos os poloneses.
"Estou muito preocupado. Se permitirmos a entrada de tantos migrantes como o governo que está deixando o poder queria, como poderemos nos proteger contra os radicais e fanáticos que estão entre eles? Como poderemos evitar que o que aconteceu em Paris não aconteça aqui? Nós não temos a experiência de rastrear refugiados e controlar o que eles fazem", afirmou à DW um aposentado na casa dos 60 anos, perplexo após ouvir uma série de anúncios no metrô pedindo que a população se mantenha alerta e reporte quaisquer perigos.
Ao tomar posse nesta quarta-feira (18/11) e discursar no Parlamento, a nova primeira-ministra, Beata Szydlo, prometeu que o país vai cooperar com a União Europeia (UE) na luta contra o extremismo, mas mostrou reservas quanto a aceitar refugiados.
"Tentativas de exportar um problema que alguns países criaram para eles mesmos sem a contribuição de outros membros não podem ser chamadas de solidariedade", disse a nova primeira-ministra em aparente referência à Alemanha.
Na segunda-feira, Szydlo havia afirmado que honraria o compromisso do governo anterior de acolher 7 mil refugiados. No entanto, membros do novo gabinete conservador mostraram relutâncias em manter a promessa após os ataques em Paris.
A nova premiê condenou os atentados na capital francesa e disse que a prioridade de seu governo será garantir a segurança dos poloneses e contribuir para a segurança da UE.
"Valores estranhos"
O "fantasma" de um fluxo de não cristãos representando valores estranhos a uma sociedade polonesa esmagadoramente católica foi, frequentemente, mencionado por políticos de direita durante a recente campanha eleitoral parlamentar no país. Numa reunião pré-eleitoral, Jaroslaw Kaczynski, líder do vitorioso partido Lei e Justiça (PiS), gerou controvérsia ao sugerir que os imigrantes podem trazer doenças contagiosas à Polônia.
Entretanto, após um par de pronunciamentos anti-imigrantes feitos por políticos nomeados para os postos de ministros do novo governo no fim de semana, na segunda-feira, políticos mais moderados do PiS amenizaram tais declarações.
O senador da legenda, Jan Maria Jackowski, afirmou à rádio Tok FM que o futuro ministro de Assuntos Europeus, Konrad Szymanski, ainda não havia recebido sua nomeação oficial quando foi citado pela agência de notícias Reuters sobre o fato de que a Polônia não vê possibilidades políticas para implementar a decisão do ex-gabinete de acolher 7 mil refugiados.
Jackowski deu a entender que esses eram pontos de vista pessoais de um futuro ministro e que as intenções do novo governo polonês foram deturpadas. "No momento, não sabemos os detalhes dos acordos do antigo governo. Não sabemos se o número já inclui os membros das famílias dos refugiados ou se mais membros da família poderiam se juntar a eles", teria afirmado Jackowski è emissora.
O novo ministro do Interior, Mariusz Blaszczak, afirmou que o país deveria discutir a questão dos refugiados e que deveria se concentrar em ajudar os cristãos no Oriente Médio. "Toda filosofia do 'Estado Islâmico' é dirigida contra eles. Eles são bestialmente assassinados. Não se pode permitir a vinda de pessoas que trazem a morte para a União Europeia sob o pretexto de refugiados", declarou.
Na prática, Blaszczak disse que a Polônia precisava tirar conclusões dos ataques de Paris tendo em vista os eventos mundiais que o país vai receber no ano que vem, incluindo uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em julho, em Varsóvia.
"Não se podem fazer concessões"
Antes de receber a nomeação para o posto de novo ministro do Exterior da Polônia, Witold Waszczykowski afirmou à rede de televisão TVN24 que "segurança é o critério número um para decidir todos os casos de pessoas que gostariam de se estabelecer na Polônia". "Não se podem fazer concessões à custa das vidas dos poloneses", disse.
Apenas os refugiados que consigam documentar seu passado e sua identidade poderão ser aceitos. Qualquer coisa duvidosa em seus históricos irá desqualificá-los, acrescentou Waszczykowski.
Ao comentar reações de políticos poloneses à tragédia francesa, o jornal de centro-direita Rzeczpospolita pediu moderação nas declarações. Ele afirmou que a opinião pública polonesa atualmente tende a se dividir em dois extremos: os que são quase abertos incondicionalmente em relação à imigração e aqueles que são totalmente contra. O jornal afirmou que nenhum dos dois é bom para a Polônia.
Analistas políticos poloneses estão divididos em suas opiniões sobre como o novo gabinete polonês irá lidar com a questão migratória. "Agora, políticos do PiS podem soar agressivos. Afinal, alguns chegaram ao poder com uma grande força da retórica anti-imigrante. Eles estão propensos a fazer um comentário polêmico ou dois", afirma Grzegorz Dziemidowicz, especialista em política externa do Collegium Civitas, em Varsóvia.
"Mas, a contragosto, apontando um monte de restrições e aspectos negativos da imigração, o novo governo conservador da Polônia está propenso a aceitar as cotas que foram negociadas anteriormente, porque, caso contrário, as repercussões na UE poderiam ser muito sérias", acrescenta.
Será interessante ver qual das visões divergentes dentro da UE o novo governo polonês deverá seguir, afirma Andrzej Jonas, editor-chefe da revista Warsaw Voice.
"Não se pode excluir a possibilidade de que a pressão por mudança da atual posição sobre imigração aumente na União Europeia. Isso pode resultar numa batalha entre países a favor e contra isso", diz o jornalista. "Dado que a opinião pública na Polônia foi deslocada para a direita, não se pode mais esperar que o país fique lado a lado com a Alemanha quanto a essa questão, como fez o ex-governo liberal. Uma linha mais dura poderá ser adotada", conclui Jonas.
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