F-16: como serão usados os caças que 'causaram' na relação entre EUA e a Ucrânia
Depois de várias negativas da Casa Branca, o presidente Joe Biden finalmente cedeu aos apelos da Ucrânia e dos aliados europeus por aviões de combate do tipo F-16. O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, deverá debater detalhes do envio com Biden durante a cúpula do G7 em Hiroshima, no Japão.
O que exatamente foi prometido à Ucrânia?
Os Estados Unidos vão apoiar o treinamento de pilotos ucranianos no uso de aviões de combate de quarta geração, incluindo os F-16. Enquanto o treinamento ocorrer, os Estados Unidos e a coalizão de países que participam da iniciativa querem tomar outras decisões: quem vai disponibilizar quantos caças e quando.
Certo é que o treinamento dos pilotos será em locais na Europa (mas não na Ucrânia), e deverá começar já nas próximas semanas e durar meses.
Militares americanos calculam que o treinamento de pilotos ucranianos no uso dos F-16 pode ser concluído em quatro meses, desde que os pilotos já estejam treinados em caças da era soviética. Entre os possíveis locais de treinamento estão as bases aéreas americanas de Aviano, na Itália, e de Spangdahlem, na Alemanha. Não foi divulgado quantos pilotos serão treinados.
Os EUA prometerem enviar caças?
Não. O governo dos EUA claramente deixou essa possibilidade em aberto. Mas o caminho para que países aliados enviem caças das suas frotas para a Ucrânia está aberto, pois o presidente Joe Biden sinalizou aprovação.
E por que tudo depende dos EUA?
Os F-16 são fabricados pela empresa americana Lockheed Martin. Por isso, o governo dos EUA tem um papel central na questão, e não só por ter uma grande frota, mas também porque precisa aprovar o envio de caças das frotas de aliados. E por causa da tecnologia usada nos jatos, participa da decisão de quem pode ser treinado. Sem luz verde dos EUA, os parceiros europeus teriam as mãos atadas.
Os EUA deixaram, porém, uma ressalva clara: trata-se do envio de "aviões de combate de quarta geração, incluindo F-16".
O que significa "de quarta geração"?
Isso significa que a Ucrânia não receberá os caças mais modernos, os F-35. Além disso, significa também que poderão ser enviados outros modelos, além dos F-16.
Entre os caças de quarta geração estão também os Tornados e os Eurofighter, usados pela Bundeswehr, os franceses Mirage 2000, e outros modelos americanos, como os F-15 e os F/A-18 Hornet.
Quais países têm F-16 e poderiam enviá-los à Ucrânia?
Entre os possíveis fornecedores estão, além dos EUA, a Holanda, a Bélgica, a Polônia, a Dinamarca e a Grécia. Todos eles usam F-16.
"O Reino Unido trabalhará com os Estados Unidos, Holanda, Bélgica e Dinamarca para fornecer à Ucrânia a capacidade de combate aéreo de que necessita", disse o premiê britânico, Rishi Sunak.
A França e o Reino Unido, que não usam o F-16, querem participar do treinamento de pilotos. Portugal também se mostrou disposto a contribuir para a formação de pilotos e técnicos de aeronaves F-16.
Na Alemanha, o chanceler federal Olaf Scholz sinalizou que não quer enviar F-16 à Ucrânia, lembrando que o país já participa do fornecimento de outros armamentos, como tanques Leopard 2.
E por que Kiev quer tanto justamente o F-16?
Porque eles são tidos como eficazes e porque há muitos disponíveis. Em todo o mundo, mais de 2.800 caças F-16 estão em uso. Assim, Kiev pode esperar receber uma grande quantidade e ter menos problemas para conseguir peças de reposição.
O governo em Kiev argumenta que, com os caças ocidentais, poderá se defender melhor dos ataques de mísseis e drones da Rússia. Para isso, os F-16 seriam usados em combinação com sistemas terrestres de defesa aérea.
Além disso, a Ucrânia quer usar caças ocidentais para apoiar as tropas em solo na ofensiva contra a Rússia.
Por que os EUA ficaram tanto tempo dizendo não?
Os EUA temem que caças ocidentais sejam usados para ataques em território russo, o que poderia levar a uma escalada do conflito, também para além do território ucraniano.
Os americanos também argumentavam que o treinamento de pilotos e de técnicos de manutenção é demorado, e por isso demoraria para que os F-16 entrassem em uso.
O governo Biden também dizia que era melhor enviar armas que os ucranianos pudessem usar em curto prazo, principalmente na esperada contraofensiva de primavera, prevista para começar logo.
Além disso, os F-16 são caros, e os republicanos, que agora têm maioria na Câmara dos Representantes, já ameaçaram não liberar mais recursos para a Ucrânia.
Do outro lado, os europeus há muito tempo pressionavam para os EUA mudarem de posição, o que o governo americano nunca descartou - também para manter unida a aliança dos apoiadores da Ucrânia.
Qual foi a reação da Rússia?
O governo russo advertiu que o envio de caças F-16 para a Ucrânia representaria "riscos colossais" para os Estados Unidos e os seus aliados.
"Vemos que os países ocidentais continuam na linha da escalada. Isso implica riscos colossais para eles mesmos", afirmou o vice-ministro do Exterior, Alexander Grushko, segundo a agência noticiosa russa Tass.
Já Putin sugeriu que pode mandar que aviões F-16 sejam atacados mesmo fora da Ucrânia. Resta saber se foi um blefe, ou se ele realmente ampliará seus ataques aos países da Otan e outros aliados.
Como são os F-16?
Foi desenvolvido nos Estados Unidos na década de 1970, por meio de um consórcio entre os norte-americanos e quatro países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte): Bélgica, Dinamarca, Holanda e Noruega. O plano previa que a aeronave fosse vendida a nações parceiras como um jato de baixo custo.
Tem 14,8 metros de comprimento, 4,8 metros de altura e pesa 8.936 kg (sem combustível).
Tripulação depende do modelo. Um F-16C, por exemplo, comporta apenas um piloto. Já um F-16D, pode levar um ou dois.
Compacto, multifuncional e altamente manobrável. Pode localizar alvos em todas as condições meteorológicas e detectar aeronaves voando baixo na interferência do radar.
Sua fuselagem tem espaço para sistemas adicionais. É armado com um canhão multibarril M-61A1 de 20 mm com 500 cartuchos e suas estações externas podem transportar até seis mísseis ar-ar, munições convencionais ar-ar e ar-superfície, além de equipamento de contramedidas eletrônicas.
Ainda é produzido nos EUA e está em constante aperfeiçoamento. De maneira geral, as atualizações reduzem a carga de trabalho do piloto, aprimoram a precisão das armas, aumentam a letalidade e melhoram as taxas de eficácia da missão projetada.
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