O Brasil começou nesta segunda-feira a aplicar regras mais duras aos turistas espanhóis em reciprocidade dos estritos requisitos exigidos a seus cidadãos em Madri, em um dia sem incidentes no qual fontes do governo federal expressaram sua disposição em negociar.

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse a jornalistas em São Paulo que "as medidas não são um fim em si mesmo" e especificou que o objetivo do Brasil é conseguir "um equilíbrio maior" com a Espanha "para facilitar a entrada de cidadãos" de ambos países.

O governo "está aberto" ao diálogo para voltar à situação anterior, disse à "Agência Brasil" a diretora do Departamento de Comunidades Brasileiras do Ministério das Relações Exteriores, Luiza Lopes da Silva.

"A partir de agora quaisquer medidas são definidas a partir da reciprocidade. Estamos, inclusive, abertos a voltar à estaca zero, como era antes: quando exigíamos apenas o passaporte do espanhol para entrar no Brasil", acrescentou.

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, principal porta de entrada de estrangeiros no país, os primeiros turistas espanhóis que aterrissaram nesta manhã a bordo de um voo da Iberia relataram que foram atendidos normalmente.

O cônsul geral da Espanha em São Paulo, José María Matres, confirmou à Agência Efe que a legação diplomática não havia recebido nenhuma ligação de cidadãos espanhóis que tenham sido impedidos de entrar após a aterrissagem dos primeiros voos procedentes da Espanha.

Fontes da Polícia Federal consultadas pela Efe se recusaram a oferecer informação sobre o desenvolvimento do primeiro dia de entrada em vigor das novas regras.

Os cidadãos espanhóis não precisam de visto para entrar no Brasil como turistas, mas a partir de hoje deverão apresentar uma passagem de volta com data confirmada, um passaporte com validade mínima de seis meses e provar que possuem recursos econômicos para manter-se no país, entre outras exigências.

Luiza Lopes argumentou que hoje não foram registrados incidentes porque se decidiu anunciar o endurecimento dos requisitos aos espanhóis com antecedência suficiente para evitar que nenhum viajante desse país "seja inadmitido no Brasil por falta de informação".

O cônsul espanhol em São Paulo lembrou que representantes do Ministério das Relações Exteriores e da chancelaria espanhola estão tratando o tema para evitar que as "relações francamente intensas" que unem os países sejam abaladas.

Matres, que destacou a grande presença no Brasil de empresas espanholas, assim como a imensa comunidade de espanhóis que reside no país, se mostrou otimista sobre o uso do diálogo e da "via diplomática" para resolver a situação.

A turista espanhola María Jesús Fernández, que hoje desembarcou em São Paulo, disse à Efe que estava ciente do endurecimento das normas e por isso viajou com todos os documentos necessários, que apresentou no momento de embarcar em Madri, mas que depois não foram exigidos na sua chegada ao Brasil.

"Aqui não tivemos nenhum problema, mostramos o passaporte, mas não nos pediram nada, não foi como em Madri que nos pediram um comprovante", comentou.

O madrilenho Juan Pablo Sánchez, que viajou ao Brasil a negócios, disse que sabia que houve "algumas mudanças", mas sua entrada no país transcorreu do mesmo modo que em ocasiões anteriores.

No entanto, nem todos os viajantes dispõem de informação suficiente sobre a nova normativa.

Outra turista, a hispânico-paraguaia Mirta Montes, que chegou ao Brasil procedente de Albacete, explicou à Efe que reservou seu voo mediante uma agência de viagens que não soube lhe informar com clareza os critérios de entrada no país.

Hoje pela tarde chegou ao Rio de Janeiro um voo da Iberia procedente de Madri e não houve registro de problemas com os turistas espanhóis, segundo fontes oficiais.

O Brasil alega que a entrada em vigor de normas mais exigentes para turistas espanhóis e não para cidadãos de outros países europeus acontece em reciprocidade pelo rigor com o qual as autoridades espanholas aplicam as normas de acesso aos brasileiros.