Confrontos entre islamitas e liberais deixam centenas de feridos no Egito
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AFP
Homem passa por um ônibus queimando durante confronto entre partidários do governo e opositores da Irmandade Muçulmana na praça Tahrir, no Cairo. pelo menos 12 pessoas ficaram feridas
Cairo, 12 out (EFE).- Os intensos confrontos entre defensores e detratores do presidente egípcio, Mohammed Mursi, marcaram a jornada de protestos convocada nesta sexta-feira por ambos os grupos na Praça Tahrir, no centro de Cairo, onde centenas de manifestantes ficaram feridos.
Os confrontos de hoje evidenciam uma grande divisão na sociedade egípcia, entre os partidários da Irmandade Muçulmana, grupo que Mursi pertencia antes de assumir à Presidência, e opositores ao presidente e também a esta organização, a qual é acusada de centralizar o poder no Egito.
Segundo o chefe do Departamento de Primeiros Socorros do Ministério da Saúde, Mohammed Sultan, citado pela agência de notícias estatal "Mena", cerca de 110 pessoas ficaram feridas, a maioria atingida por pedradas na cabeça.
Outras fontes médicas, que pediram não ser identificadas, relataram à Agência Efe que esse número poderia passar dos 200 feridos, incluindo alguns casos mais graves. Uma fonte do Ministério do Interior, citada pela agência "Mena", afirmou que nenhum dos feridos foi atingido por disparos de armas de fogo.
Uma testemunha explicou à Agência Efe que os confrontos se desencadearam quando um jovem subiu em um palco montado em meio a uma jornada de protestos para gritar contra "o poder do guia espiritual", em uma referência ao líder máximo da Irmandade, Mohammed Badía.
Nesse momento, jovens da Irmandade Muçulmana começaram a atacar a tribuna, enquanto, segundo a mesma fonte, cantavam o lema "atrás de Mursi há homens valentes".
Nesta sexta-feira, dois protestos estavam convocados na praça: uma organizada por cerca de 20 grupos liberais e revolucionários para pedir a renúncia de Mursi, que chega aos 100 dias de mandato, e exigir que a nova Constituição represente todos os egípcios.
Já a outra manifestação foi convocada pela Irmandade Muçulmana para rejeitar a suposta falha no julgamento de várias autoridades do antigo regime de Hosni Mubarak (1981-2011), os quais foram absolvidos há dois dias pela morte dos manifestantes na chamada "batalha do camelo", registrada durante a revolução egípcia.
Segundo pôde constatar a Agência Efe, após os confrontos iniciados logo após a oração muçulmana do meio-dia, outros choques também eram registrados esporadicamente na praça.
Os simpatizantes da Irmandade Muçulmana representavam a maioria em Tahrir, enquanto os detratores do presidente egípcio se encontravam em uma rua próxima à praça.
Enquanto os partidários do chefe do Estado gritavam "te queremos, Mursi", seus oponentes respondiam com palavras de ordem como "o povo quer a queda do Governo do guia espiritual" da Irmandade Muçulmana e "Mursi, covarde, retira seus cachorros da praça".
Diante deste cenário, as pedras voavam de um lado para o outro e, em algumas ocasiões, conseguia atingir o objetivo de acertar os manifestantes opostos. Em outras ocasiões, os manifestantes corriam em debandada para se proteger, mas, pouco depois, voltavam às imediações do confronto.
Uma fonte policial afirmou à agência Efe que, na parte da tarde, os seguidores da Irmandade Muçulmana fecharam os acessos à praça e impediram a entrada dos manifestantes dos grupos liberais e revolucionários que chegavam desde os bairros de Dokhi e Al Gamra.
Em comunicado, o movimento "Jovens do 6 de Abril", um dos organizadores do protesto anti-Mursi, pediu aos partidários da Irmandade Muçulmana irem embora da praça e interromper as agressões, advertindo o grupo islamita contra "a soberba com a qual trata ao resto das correntes políticas" e cobrando um controle de seus seguidores.
Para evitar mais distúrbios em Tahrir, os "Jovens do 6 de Abril" anunciaram sua retirada e pediu que seus simpatizantes fossem para em direção à sede da Procuradoria Geral de a Corte Suprema. Neste caso, a ideia era dar continuidade ao protesto, mas de forma pacífica.
No entanto, o jornal estatal "Al Ahram" informou que, enquanto os seguidores do grupo se retiravam, os manifestantes da Irmandade Muçulmana que também deixavam o local queimaram dois ônibus dos "Jovens do 6 de Abril", ambos estacionados próximos à Praça Tahrir.EFE
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