Thatcher considerava "todos" irlandeses "mentirosos", diz trabalhista
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Miguel Medina/Pool/AFP
Carregadores retiram o caixão de Margaret Thatcher da cripta da capela de Santa Maria, no parlamento inglês
A ex-primeira-ministra Margaret Thatcher considerava "todos os irlandeses" "mentirosos", disse nesta quarta-feira (17), mesmo dia do funeral da política conservadora, o ex-dirigente trabalhista britânico Peter Mandelson.
Em entrevista à emissora "BBC", Mandelson, um dos criadores do Novo Trabalhismo durante os mandatos de Tony Blair, relembrou seu único e breve encontro, em 1999, com a "Dama de Ferro".
No dia em que assumiu o ministério para a Irlanda do Norte, Thatcher se encontrou com Mandelson e lhe deu um conselho:
"Veio e me disse: 'Tenho uma coisa que quero te dizer, jovem, não se pode confiar nos irlandeses, são todos uns mentirosos, é o que precisa lembrar, não se esqueça", relatou o trabalhista.
O período de Thatcher como primeira-ministra do Reino Unido (1979-1990) coincidiu com um momento difícil nas relações entre Londres e Dublin, quando o conflito armado na Irlanda do Norte estava em seu auge.
Thatcher e o primeiro-ministro da época, Garreth Fitzgerald, assinaram um acordo de paz em 1985 que não prosperou.
Além disso, sua atitude durante a época das greves de fome dos presos do IRA em 1981 tornou a política conservadora uma figura odiada entre os setores republicanos e inclusive entre os nacionalistas moderados irlandeses.
"Essa foi minha única experiência pessoal com ela", afirmou hoje Mandelson, que se negou a participar do funeral de Thatcher realizado na catedral de St.Paul.
"Sinto que não a conheci suficientemente", justificou Mandelson. Em sua opinião, Thatcher lutou por meio de suas políticas ultraliberais para "reduzir" o papel do Estado e, em consequência, "não quis perceber" que o Estado "também pode funcionar com sucesso".
No entanto, Mandelson reconheceu que a ex-primeira-ministra "redefiniu a política britânica" e acertou em várias questões econômicas.