Protestos por lei da blasfêmia em Bangladesh deixam 15 mortos e 200 feridos

Jaime Leão

Nova Délhi, 6 mai (EFE).- Quinze pessoas morreram e 200 ficaram feridas durante dois dias de protestos em Bangladesh, onde os fundamentalistas querem uma aplicação mais estrita do islã, com uma lei anti-blasfêmia e a segregação do homem e da mulher.

As manifestações, que contaram com milhares de pessoas, começaram no domingo em Daca e hoje se estenderam à cidade vizinha de Narayanganj, e já deixaram pelo menos oito mortos, segundo o portal "Bdnwes 24".

No domingo, foram produzidos enfrentamentos violentos entre manifestantes islamitas e as forças de ordem no bairro de Motijhil, o que levou as autoridades a expulsar os ativistas desta área durante a madrugada.

Ao meio-dia de hoje, no entanto, a situação era "quase normal", disse o inspetor geral da polícia de Bangladesh, Hassan Mahmoud Jandker, assim como os meios de imprensa bengaleses, que agregaram que as autoridades impuseram toque de recolher até a meia-noite de hoje.

Os protestos são liderados por Hifazat-e-Islam (HI), uma organização religiosa de professores e estudantes de madraçais, que reivindicam uma aplicação mais estrita do islã.

O líder do HI, Allama Shah Ahmad Shafi, foi detido hoje pela polícia, que ofereceu a ele duas opções: permanecer detido ou abandonar a capital, segundo o jornal "The Daily Star", que não dá detalhes sobre a resposta do religioso.

As manifestações islamitas isolaram durante horas a capital de Bangladesh do resto do país e transformaram as ruas de Daca em um campo de batalha com o saque e destruição de lojas e centenas de carros em chamas.

A polícia e o exército recorreram aos meios antidistúrbios para fazer frente à manifestação islamita.

Hifazat-e-Islam tinha publicado um manifesto islamita em Daca em 6 de abril no qual pedia a criação de uma lei anti-blasfêmia e outorgou um prazo ao Governo até 5 de maio para decretá-lo.

O Governo da primeira-ministra Sheikh Hasina, da Liga Awami, não deu o braço a torcer e por isso os islamitas tomaram ontem a capital.

Os islamitas reivindicam a lei anti-blasfêmia para aplacar os que eles chamam "blogueiros ateus", que na rede pediram durante os últimos meses a pena de morte para os islamitas condenados por crimes de lesa-humanidade na guerra civil que desencadeou a independência de Bangladesh do Paquistão em 1971.

Aí é onde nasce o atual conflito entre os fundamentalistas islâmicos e o Governo de um país onde 90% da população é muçulmana, com uma tradicional moderação e tolerância religiosa.

Hasina, filha de um dos pais da pátria, se propôs ao início de sua legislatura (2009) denunciar judicialmente os supostos responsáveis que perpetraram crimes contra a humanidade no conflito de independência.

Durante aquele conflito morreram, segundo algumas estimativas, cerca de três milhões de pessoas e milhares de mulheres foram estupradas.

Desta maneira foi criado em 2010 um tribunal de crimes de guerra, onde na prática a maior parte dos acusados - e todos os três condenados até o momento - foram líderes de Jamaat-e-Islami (JI), o principal partido religioso do país.

Desde então, se repetiram os protestos islamitas em Bangladesh e pelo menos 120 pessoas morreram neles.

Mas ao mesmo tempo milhares de pessoas tomaram de forma pacífica a zona de Shahbag, no centro de Daca, durante semanas para pedir uma pena mais severa contra um dos condenados.

Os blogueiros tiveram um papel importante neste movimento e quatro deles foram detidos por "ferir os sentimentos religiosos" por pedir a proibição do Jamaat-e-Islami, o que pode acarretar em 10 anos de prisão.

O Governo, de fato, aprovou uma lei em fevereiro que permite à Promotoria recorrer sentenças e que dá sinal verde para perseguir judicialmente as formações políticas, o que foi avaliado como uma medida contra o JI e desencadeou novos protestos islamitas.

O líder da oposição Jaleda Zía, à frente do Partido Nacionalista de Bangladesh e aliado histórico dos islamitas, exigiu a criação de um Governo interino e a antecipação das eleições previstas para finais deste ano ou começo de 2014.

Precisamente, a tensão costuma se intensificar quando as eleições se aproximam neste superpovoado país, com 150 milhões de habitantes, com pobres indicadores de desenvolvimento e graves problemas ambientais, e muito fragmentado politicamente.

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