Sarkozy passa por 14 horas de interrogatório e continua detido na França

Em Paris

  • Thomas Coex, Valery Hache e Martin Bureau/AFP

    Da esquerda para a direita: o advogado francês Thierry Herzog, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, e o juiz francês Gilbert Azibert

    Da esquerda para a direita: o advogado francês Thierry Herzog, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, e o juiz francês Gilbert Azibert

Nicolas Sarkozy, o primeiro ex-presidente da França que presta depoimento na condição de detido, continua na sede da Polícia Judiciária em Nanterre, nos arredores de Paris, após 14 horas de interrogatório nesta terça-feira (1º).

O político conservador, chefe do Estado francês entre 2007 e 2012, prestou depoimento na presença de um advogado sobre a acusação de tráfico de influência e violação do segredo de instrução de outros casos abertos contra ele.

Sarkozy pode permanecer até 48 horas sob a jurisdição da Polícia Judiciária, aonde chegou esta manhã em um carro com vidros escuros.

Ao fim do depoimento, Sarkozy pode ser formalmente acusado desses crimes, colocado como simples testemunha ou declarado "testemunha assistida", uma figura jurídica que se situa entre as duas anteriores.

A decisão judicial é particularmente delicada porque pessoas próximas a Sarkozy e o próprio ex-presidente estão preparando o terreno para seu retorno à política, de olho nas eleições de 2017.

Se for declarado culpado, Sarkozy pode pegar uma pena máxima de cinco anos de prisão e multa de até 500 mil euros.

Também prestaram depoimento no caso seu advogado, Thierry Herzog, e dois altos magistrados franceses, Gilbert Azibert e Patrick Sassous, para verificar se o ex-chefe de Estado e seu entorno criaram uma rede de informação que os mantinha cientes da evolução dos processos judiciais que ameaçam o político.

Os investigadores gravaram conversas telefônicas de Sarkozy, e suspeitam que seu advogado recebia informações de conselheiros do Tribunal Supremo sobre os avanços da investigação que busca identificar se o presidente recebeu financiamento ilegal da campanha que o levou ao Palácio do Eliseu.

Segundo essa teoria, o defensor de Sarkozy prometeu como contrapartida a Azibert que o ex-presidente o ajudaria em outro processo relacionado à administração de Mônaco.

Um dos elementos que puseram os juízes em alerta, para então grampear o telefone do ex-presidente, foi o fato de Sarkozy abrir uma segunda linha de celular com um pseudônimo para se comunicar discretamente com seu advogado sobre a evolução dos processos judiciais em que eles teriam informação privilegiada.

Assim nasceu o chamado "caso das escutas", um dossiê derivado de uma investigação que tenta determinar se o político recebeu financiamento ilegal vindo do então ditador líbio Muammar Kadafi.

Ex-presidente Sarkozy chama juízes de bastardos em novas escutas

Sarkozy, de 59 anos, não falou com a imprensa na chegada à delegacia, um arranha céu em Défence, no limite de Paris, mas seu grupo político fez declarações durante o dia nas quais afirmavam que a medida judicial responde a um plano de caça que é ativado a cada vez que o ex-presidente ameaça retornar ativamente à política.

Durante o interrogatório, o jornal "Le Parisien" publicou, citando fontes próximas a Sarkozy, que apesar dos obstáculos judiciais, ele procura um "braço direito" para se apoiar nesse retorno.

Além disso, se cogita a mudança do nome da União por um Movimento Popular (UMP), partido conservador imerso em uma profunda crise interna agravada por vários escândalos de corrupção.

"Cada vez que se fala de uma eventual volta, surpreendentemente, surge uma questão judicial", declarou a delegada geral adjunta da UMP, Valérie Debord.

Já o porta-voz do governo e ministro da Agricultura, o socialista Stéphane Le Foll, disse que os magistrados devem "ir até o fim, porque Nicolas Sarkozy deve ser investigado, assim como os outros".

A acusação de tráfico de influência é uma das muitas que pipocam contra o ex-presidente.

Existe outra de financiamento ilegal que teria vindo da multimilionária herdeira do grupo L'Oréal, Liliane Bettencourt, ou a suposta mediação de Sarkozy em um tribunal de arbitragem entre o empresário Bernard Tapie e o Estado, quando os cofres públicos perderam um processo que custou 403 milhões de euros.

No chamado "caso Tapie" também é investigada Christine Lagarde, então ministra da Economia da França e atual diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Em 2011, o também presidente conservador Jacques Chirac (1995-2007), foi condenado a dois anos de prisão isentos de cumprimento por desvio de recursos e outros delitos cometidos nos anos 90, quando era prefeito de Paris.

Chirac foi julgado após perder a imunidade parlamentar.

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