Topo

Obama critica líder do Burundi e diz que ninguém deve se perpetuar no poder

Em Adis-Abeba

28/07/2015 09h34

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta terça-feira que nenhum líder africano deveria se perpetuar no cargo além do estabelecido na Constituição de seus países, como ocorreu no Burundi, porque isso conduz a uma situação de "instabilidade e de luta".

"Francamente, não entendo isto. Estou em meu segundo mandato. Adoro meu trabalho mas, sob a Constituição, não posso voltar a me candidatar. E acredito que poderia ganhar", confessou perante o plenário da União Africana, que pela primeira vez recebeu hoje um presidente americano em exercício.

Segundo Obama, que conclui hoje sua primeira visita oficial à Etiópia, "o progresso democrático na África está em risco por culpa daqueles líderes que rejeitam deixar o cargo quando terminam seus mandatos".

"Quando um líder tenta mudar as regras na metade do jogo só para seguir no cargo, arrisca a desencadear uma situação de instabilidade e luta, como vimos no Burundi", disse, entre uma grande ovação.

O líder americano falou assim de seu colega burundinês, Pierre Nkurunziza, que acaba de ser reeleito para um terceiro mandato descumprindo o limite constitucional de duas legislaturas, o que suscitou uma onda de violência que fez dezenas de vítimas e forçou a fuga de mais de 160 mil pessoas.

"Não entendo por que alguém quer ficar tanto tempo, especialmente quando ganhou tanto dinheiro", se perguntou, com relação à imobilidade que mostram líderes também em outros países do continente, como em Ruanda e Uganda.

Na opinião de Obama, quando um líder pensa que é a única pessoa que pode manter unida sua nação, "isso significa que falhou" em sua tarefa.

Obama replicou com seu exemplo. "Ainda há muito que quero fazer para manter a América avançando. Mas a lei é a lei, e ninguém está acima dela", especificou.

"Francamente, estou desejando a volta da minha vida após a presidência. Poderei passar mais tempo com minha família, encontrarei novas formas de servir a meu país e poderei visitar a África mais frequentemente ", palavras que foram recebidas com entusiasmo no plenário.

Igualmente, Obama chamou os líderes africanos a se inspirar no ex-presidente sul-africano e líder da luta contra o "apartheid", Nelson Mandela, que "deixou um legado durável e foi capaz de sair do cargo e transferir o poder de forma pacífica".

"Da mesma forma que a UA -continuou- condenou golpes de estado e transferências de poder ilegítimos, a autoridade e a voz poderosa da UA também pode ajudar a garantir ao povo da África que seus líderes respeitam os limites de seus mandatos e suas constituições".

"Ninguém deve ser presidente por toda vida", concluiu.

O presidente dos Estados Unidos deixará a Etiópia nesta tarde e porá fim a uma viagem de quatro dias na qual também visitou o Quênia, terra natal de seu pai, para tratar sobre assuntos comerciais, de segurança e de direitos humanos.