O templo do terror da última ditadura na Argentina
Rodrigo García Melero.
Buenos Aires, 23 mar (EFE).- Já se passaram 40 anos, mas o tempo parece não ter tido efeito sobre o antigo edifício da Escola de Mecânica da Marinha (Esma), o templo do terror da última ditadura na Argentina (1976-1983), onde mais de 5 mil pessoas foram mantidas presas e torturadas, quase todas elas posteriomente jogadas ainda com vida no mar nos chamados "voos da morte".
O prédio, em pleno centro urbano de Buenos Aires, ainda conserva os ares de frieza de seu período ditatorial. No entanto, continua sendo prova material nos julgamentos contra os agentes do golpe que ainda estão em andamento no país.
"É o símbolo do que foi a repressão na Argentina e no Cone Sul. O centro clandestino (argentino) mais conhecido no mundo", afirmou à Agência Efe Alejandra Nafta, diretora do "Sitio de Memoria Esma", museu criado no edifício, de onde acredita-se que apenas 250 pessoas para lá levadas durante a ditadura conseguiram sobreviver.
Militantes políticos e sociais, de grupos revolucionários armados e não armados, trabalhadores, sindicalistas, estudantes, artistas e religiosos passaram pelo prédio desde 1976, quando o golpe militar do dia 24 de março deu início aos sete anos mais obscuros da história da Argentina.
"Esse é um templo de homenagem à vida mutilada, dos que não tiveram futuro. De lembrança dos que não estão mais entre nós e de condenação", explicou, emocionado, o juiz Pedro Rubén David, integrante da Câmara Nacional de Cassação Penal desde a sua criação, em 1992, e ex-membro do Tribunal de Haia.
Paredes descascadas, espaços mal iluminados, acompanhados apenas de painéis explicativos do que esses muros foram testemunha, permitem mostrar uma pequena ideia da realidade.
O percurso dos prisioneiros começava no porão, onde eles eram submetidos a tortura com o objetivo de extrair informações sobre suas organizações políticas e de outros militantes.
Depois, eles eram levados para o terceiro andar, onde estava a sala conhecida como "capuz", que mais detidos alojava. No mesmo andar, também ficavam as grávidas que esperavam dar à luz seus filhos, dos quais muito são os desaparecidos vivos que ainda seguem sendo procurados na Argentina.
Uma primeira reconstrução do que ocorreu foi possível após a investigação realizada pela Comissão Nacional de Desaparecimento de Pessoas em 1984, e também pelo fim do sigilo sobre documentos, iniciado em 2003, sobretudo quanto às informações de sobreviventes.
"A partir dos testemunhos, podemos descobrir que aqui houve um plano sistemático de extermínio, de aniquilamento, de tortura e de desaparecimento forçado de pessoas", afirmou Alejandra.
Para a diretora do "Sitio de Memoria Esma", que foi presa em 17 e ficou durante vários meses no centro de detenção conhecido como "El Vesúvio", a antiga Esma pode ser considerada como um "centro clandestino sofisticado", já que, com o tempo, inovou tanto em ações repressivas como nos demais crimes cometidos pelos agentes da ditadura.
"Não só sequestravam em busca de informação política e de destruir qualquer tipo de oposição ao regime, mas se transformaram em uma quadrilha que roubou bens, falsificou documentos, roubou lojas e fazendas", lembrou Alejandra.
Assim que os carrascos decidiam o destino de suas vítimas, elas eram chamadas por um número. Os agentes injetavam uma substância para fazê-las dormir e prepará-las para os chamados "voos da morte" em aviões militares, dos quais eram jogadas vivas ao mar.
Ao contrário de outros centros de detenção, a Esma funcionou durante todo o período da ditadura. Dessa forma, em 1979, o edifício foi parcialmente modificado por causa da visita de representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, provocada pelas denúncias sobre a repressão, quando se tentou apagar provas.
Durante a visita, grande parte dos prisioneiros foi temporariamente levada a uma ilha no delta de San Fernando.
Em 2004, o governo de Néstor Kirchner anunciou a criação do Espaço Memória e Direitos Humanos no amplo solar onde está o complexo da Esma, que foi definitivamente desocupado pelas Forças Armadas em 2007.
Agora, 40 anos depois do golpe, um grupo de jovens com formação em História são os encarregados de narrar para os visitantes o que ocorreu neste trágico local durante à ditadura argentina.
Desde 2012, está sendo realizada uma nova etapa de um processo judicial pelos crimes cometidos na Esma, que investiga os casos de 789 vítimas e têm, no total, 56 acusados.
A primeira fase do julgamento não chegou ao fim, já que o único acusado morreu antes de sair a sentença, em 2007. Já no segundo julgamento, encerrado em 2011, foram condenadas 16 pessoas.
Buenos Aires, 23 mar (EFE).- Já se passaram 40 anos, mas o tempo parece não ter tido efeito sobre o antigo edifício da Escola de Mecânica da Marinha (Esma), o templo do terror da última ditadura na Argentina (1976-1983), onde mais de 5 mil pessoas foram mantidas presas e torturadas, quase todas elas posteriomente jogadas ainda com vida no mar nos chamados "voos da morte".
O prédio, em pleno centro urbano de Buenos Aires, ainda conserva os ares de frieza de seu período ditatorial. No entanto, continua sendo prova material nos julgamentos contra os agentes do golpe que ainda estão em andamento no país.
"É o símbolo do que foi a repressão na Argentina e no Cone Sul. O centro clandestino (argentino) mais conhecido no mundo", afirmou à Agência Efe Alejandra Nafta, diretora do "Sitio de Memoria Esma", museu criado no edifício, de onde acredita-se que apenas 250 pessoas para lá levadas durante a ditadura conseguiram sobreviver.
Militantes políticos e sociais, de grupos revolucionários armados e não armados, trabalhadores, sindicalistas, estudantes, artistas e religiosos passaram pelo prédio desde 1976, quando o golpe militar do dia 24 de março deu início aos sete anos mais obscuros da história da Argentina.
"Esse é um templo de homenagem à vida mutilada, dos que não tiveram futuro. De lembrança dos que não estão mais entre nós e de condenação", explicou, emocionado, o juiz Pedro Rubén David, integrante da Câmara Nacional de Cassação Penal desde a sua criação, em 1992, e ex-membro do Tribunal de Haia.
Paredes descascadas, espaços mal iluminados, acompanhados apenas de painéis explicativos do que esses muros foram testemunha, permitem mostrar uma pequena ideia da realidade.
O percurso dos prisioneiros começava no porão, onde eles eram submetidos a tortura com o objetivo de extrair informações sobre suas organizações políticas e de outros militantes.
Depois, eles eram levados para o terceiro andar, onde estava a sala conhecida como "capuz", que mais detidos alojava. No mesmo andar, também ficavam as grávidas que esperavam dar à luz seus filhos, dos quais muito são os desaparecidos vivos que ainda seguem sendo procurados na Argentina.
Uma primeira reconstrução do que ocorreu foi possível após a investigação realizada pela Comissão Nacional de Desaparecimento de Pessoas em 1984, e também pelo fim do sigilo sobre documentos, iniciado em 2003, sobretudo quanto às informações de sobreviventes.
"A partir dos testemunhos, podemos descobrir que aqui houve um plano sistemático de extermínio, de aniquilamento, de tortura e de desaparecimento forçado de pessoas", afirmou Alejandra.
Para a diretora do "Sitio de Memoria Esma", que foi presa em 17 e ficou durante vários meses no centro de detenção conhecido como "El Vesúvio", a antiga Esma pode ser considerada como um "centro clandestino sofisticado", já que, com o tempo, inovou tanto em ações repressivas como nos demais crimes cometidos pelos agentes da ditadura.
"Não só sequestravam em busca de informação política e de destruir qualquer tipo de oposição ao regime, mas se transformaram em uma quadrilha que roubou bens, falsificou documentos, roubou lojas e fazendas", lembrou Alejandra.
Assim que os carrascos decidiam o destino de suas vítimas, elas eram chamadas por um número. Os agentes injetavam uma substância para fazê-las dormir e prepará-las para os chamados "voos da morte" em aviões militares, dos quais eram jogadas vivas ao mar.
Ao contrário de outros centros de detenção, a Esma funcionou durante todo o período da ditadura. Dessa forma, em 1979, o edifício foi parcialmente modificado por causa da visita de representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, provocada pelas denúncias sobre a repressão, quando se tentou apagar provas.
Durante a visita, grande parte dos prisioneiros foi temporariamente levada a uma ilha no delta de San Fernando.
Em 2004, o governo de Néstor Kirchner anunciou a criação do Espaço Memória e Direitos Humanos no amplo solar onde está o complexo da Esma, que foi definitivamente desocupado pelas Forças Armadas em 2007.
Agora, 40 anos depois do golpe, um grupo de jovens com formação em História são os encarregados de narrar para os visitantes o que ocorreu neste trágico local durante à ditadura argentina.
Desde 2012, está sendo realizada uma nova etapa de um processo judicial pelos crimes cometidos na Esma, que investiga os casos de 789 vítimas e têm, no total, 56 acusados.
A primeira fase do julgamento não chegou ao fim, já que o único acusado morreu antes de sair a sentença, em 2007. Já no segundo julgamento, encerrado em 2011, foram condenadas 16 pessoas.
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