Em tempos de escassez, chavistas controlam venda de alimentos na Venezuela
Nélida Fernández.
Caracas, 29 set (EFE).- A grave escassez de produtos básicos na Venezuela fez com que imensas filas na porta de mercearias e supermercados se tornassem uma cena comum, um problema que o governo tenta solucionar com um sistema de venda de alimentos formado só por militantes chavistas e conhecido como CLAP.
Os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) criados pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em março deste ano têm a missão de distribuir e vender diretamente alimentos da cesta básica mais em conta, principalmente nas áreas populares, mas muitos garantam nunca ter visto as "bolsas CLAP".
Quando criou este sistema, Maduro disse que a ideia era combater os especuladores dos mercados que "se apoderam de produtos", os "bachaqueros" e os revendedores de artigos de primeira necessidade, assim como enfrentar alguns dos autores da "guerra econômica" que, segundo ele, a oposição promove contra o seu governo.
No último domingo, o coordenador nacional do CLAP, Freddy Bernal, afirmou que 5,6 milhões de pessoas foram beneficiadas pelos comitês que chegaram a 1,34 milhão de famílias. E embora a Agência Efe tenha conseguido presenciar a venda das bolsas no bairro Vista Hermosa del Junquito, na zona oeste de Caracas, moradores dos bairros populares do leste da capital, por outro lado, falaram que não viram o benefício.
Membro da associação de moradores de Vista Hermosa, no município de Libertador, Liliana Rivero, assumiu que o sistema de distribuição ainda apresenta falhas, porque alguns bairros ainda não conseguem fazer as vendas a cada 21 dias, como o prometido, e para ter o controle de um CLAP é preciso ser integrante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
"Isto é política. Tudo organizado e com todos chavistas de verdade, de coração, fazendo o trabalho com muita sinceridade", explicou Liliana, afirmando que a bolsa é vendida a todos os que foram recenseados previamente, mesmo que não sejam simpatizantes do governo.
No entanto, as atividades de venda e distribuição são exclusivas de chavistas.
"Nos CLAP só trabalham os chavistas, do partido e do processo, que estão lutando sempre, mas nós não discriminamos quem é esquálido (forma pejorativa para se referir ao opositor) ou não, porque todos somos seres humanos e todos vivemos na mesma comunidade", completou.
A fala de Liliana corrobora a do vice-presidente executivo Aristóbulo Istúriz, que afirmou que os CLAPs são "instrumento fundamental de defesa da revolução bolivariana".
Moradora de Vista Hermosa, Miladys Franco, mãe de dois filhos, comprou uma bolsa com fubá, farinha de trigo, arroz, óleo e leite, desta vez por 2.500 bolívares, que no câmbio mais alto no marco do controle estatal de divisas equivale a cerca de US$ 3,8.
Segundo Miladys, a bolsa daquele dia era "muito mais sortida e mais barata" do que a anterior que foi quase o dobro e esta mudança se deve à "nova administração" do CLAP que distribui na sua região, pois os encarregados anteriores "ficavam com o dinheiro".
Enquanto isso, em Petare, a maior favela da América Latina e localizada na zona leste de Caracas, a realidade é diferente. Todos os moradores de lá ouvidos pela Efe asseguraram "jamais" ter visto uma "bolsa CLAP" e afirmam ainda terem sido expulsos do mercado público que vendia produtos mais em conta.
Zaida Guzmán mora há mais de 50 anos em Petare, mais especificamente no bairro La Unión, e afirmou à Efe que os CLAPs não chegam por lá.
"Nós fomos à associação de moradores para perguntar e nos disseram que isso é claramente político, os CLAPs pertencem ao PSUV", relatou Zaida, ressaltando que os 75 mil moradores de La Unión também não têm o Mercal, programa social do governo de incentivo aos preços baixos.
"Como a gente faz? Como as pessoas dizem, é a dieta de Maduro? A maioria só faz uma refeição por dia, e se conseguir", disse em referência à forma como muitos falam da perda de peso por não conseguir os alimentos ou não poder comprá-los.
Esse é o caso de Katiuska González, que em três meses emagreceu 20 quilos. "Não recebemos absolutamente nada dos CLAPs. De verdade, estamos à mercê de ninguém", contou.
Vereador opositor de Petare, José Palacios confirmou que o sistema de distribuição de alimentos criado por Maduro não funciona na região e afirmou que, em sua opinião, em vez de CLAP o sistema deveria se chamar CLÃ.
"É o clã dos especuladores que estão no alto escalão do governo. Não é verdade que o CLÃ chega na casa das pessoas. Isso é totalmente falso", denunciou.
Maduro, no entanto, continua apostando nos comitês e em meados deste mês lançou o questionamento: "O que seria da revolução, de nossa pátria e da estabilidade econômica e social, se não tivéssemos os CLAPs?".
Caracas, 29 set (EFE).- A grave escassez de produtos básicos na Venezuela fez com que imensas filas na porta de mercearias e supermercados se tornassem uma cena comum, um problema que o governo tenta solucionar com um sistema de venda de alimentos formado só por militantes chavistas e conhecido como CLAP.
Os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) criados pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em março deste ano têm a missão de distribuir e vender diretamente alimentos da cesta básica mais em conta, principalmente nas áreas populares, mas muitos garantam nunca ter visto as "bolsas CLAP".
Quando criou este sistema, Maduro disse que a ideia era combater os especuladores dos mercados que "se apoderam de produtos", os "bachaqueros" e os revendedores de artigos de primeira necessidade, assim como enfrentar alguns dos autores da "guerra econômica" que, segundo ele, a oposição promove contra o seu governo.
No último domingo, o coordenador nacional do CLAP, Freddy Bernal, afirmou que 5,6 milhões de pessoas foram beneficiadas pelos comitês que chegaram a 1,34 milhão de famílias. E embora a Agência Efe tenha conseguido presenciar a venda das bolsas no bairro Vista Hermosa del Junquito, na zona oeste de Caracas, moradores dos bairros populares do leste da capital, por outro lado, falaram que não viram o benefício.
Membro da associação de moradores de Vista Hermosa, no município de Libertador, Liliana Rivero, assumiu que o sistema de distribuição ainda apresenta falhas, porque alguns bairros ainda não conseguem fazer as vendas a cada 21 dias, como o prometido, e para ter o controle de um CLAP é preciso ser integrante do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
"Isto é política. Tudo organizado e com todos chavistas de verdade, de coração, fazendo o trabalho com muita sinceridade", explicou Liliana, afirmando que a bolsa é vendida a todos os que foram recenseados previamente, mesmo que não sejam simpatizantes do governo.
No entanto, as atividades de venda e distribuição são exclusivas de chavistas.
"Nos CLAP só trabalham os chavistas, do partido e do processo, que estão lutando sempre, mas nós não discriminamos quem é esquálido (forma pejorativa para se referir ao opositor) ou não, porque todos somos seres humanos e todos vivemos na mesma comunidade", completou.
A fala de Liliana corrobora a do vice-presidente executivo Aristóbulo Istúriz, que afirmou que os CLAPs são "instrumento fundamental de defesa da revolução bolivariana".
Moradora de Vista Hermosa, Miladys Franco, mãe de dois filhos, comprou uma bolsa com fubá, farinha de trigo, arroz, óleo e leite, desta vez por 2.500 bolívares, que no câmbio mais alto no marco do controle estatal de divisas equivale a cerca de US$ 3,8.
Segundo Miladys, a bolsa daquele dia era "muito mais sortida e mais barata" do que a anterior que foi quase o dobro e esta mudança se deve à "nova administração" do CLAP que distribui na sua região, pois os encarregados anteriores "ficavam com o dinheiro".
Enquanto isso, em Petare, a maior favela da América Latina e localizada na zona leste de Caracas, a realidade é diferente. Todos os moradores de lá ouvidos pela Efe asseguraram "jamais" ter visto uma "bolsa CLAP" e afirmam ainda terem sido expulsos do mercado público que vendia produtos mais em conta.
Zaida Guzmán mora há mais de 50 anos em Petare, mais especificamente no bairro La Unión, e afirmou à Efe que os CLAPs não chegam por lá.
"Nós fomos à associação de moradores para perguntar e nos disseram que isso é claramente político, os CLAPs pertencem ao PSUV", relatou Zaida, ressaltando que os 75 mil moradores de La Unión também não têm o Mercal, programa social do governo de incentivo aos preços baixos.
"Como a gente faz? Como as pessoas dizem, é a dieta de Maduro? A maioria só faz uma refeição por dia, e se conseguir", disse em referência à forma como muitos falam da perda de peso por não conseguir os alimentos ou não poder comprá-los.
Esse é o caso de Katiuska González, que em três meses emagreceu 20 quilos. "Não recebemos absolutamente nada dos CLAPs. De verdade, estamos à mercê de ninguém", contou.
Vereador opositor de Petare, José Palacios confirmou que o sistema de distribuição de alimentos criado por Maduro não funciona na região e afirmou que, em sua opinião, em vez de CLAP o sistema deveria se chamar CLÃ.
"É o clã dos especuladores que estão no alto escalão do governo. Não é verdade que o CLÃ chega na casa das pessoas. Isso é totalmente falso", denunciou.
Maduro, no entanto, continua apostando nos comitês e em meados deste mês lançou o questionamento: "O que seria da revolução, de nossa pátria e da estabilidade econômica e social, se não tivéssemos os CLAPs?".
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