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Persistente e estrategista, atual premiê é favorito em eleição no Japão

20/10/2017 18h48

Ramón Abarca.

Tóquio, 20 out (EFE).- O persistente e conservador Shinzo Abe voltou a apostar alto e, neste domingo buscará pela terceira vez em menos de cinco anos a renovação de seu mandato nas urnas, o que o colocaria no caminho de se tornar o primeiro-ministro do Japão a ficar mais tempo no cargo.

Em seu pior momento de popularidade desde que chegou pela segunda vez ao poder em 2012, Abe lançou uma arriscada cartada e convocou eleições um ano antes do fim da legislatura sem qualquer razão aparente além de aproveitar o momento de grande debilidade da oposição com o propósito de prolongar e fortalecer seu ambicioso mandato.

Este filho e neto de proeminentes políticos, de 63 anos, que conseguiu em 2014, também com eleições antecipadas, revalidar sua vitória anterior, focou seu discurso mais uma vez no bom momento da economia e na necessidade de um governo forte para lidar com a ameaça da Coreia do Norte.

No entanto, Abe chega a estas eleições mais em baixa do que nunca. Apesar de as pesquisas indicarem que o Partido Liberal Democrata (PLD) que ele lidera vencerá com facilidade no próximo domingo, sua popularidade caiu significativamente no último ano.

Além do desgaste do poder, o primeiro-ministro, cuja capacidade de resistência lhe valeu o apelido de "Teflon Abe", terá que pagar a conta de vários escândalos.

A recente crise de mísseis da Coreia do Norte deu fôlego a Abe, o que, somado às tensas disputas internas da primeira força da oposição, o Partido Democrático (PD), o encorajou a fazer uma arriscada aposta: a convocação de eleições antecipadas que pouquíssimos no Japão veem como necessárias.

A previsível vitória permitirá ao premiê continuar com seu ambicioso programa econômico, conhecido como "Abenomics", que através de agressivos estímulos e flexibilização monetária conseguiu começar a reativar a vagarosa economia japonesa.

Se conseguir junto com os atuais parceiros de governo - os budistas do Komeito - a desejada maioria de dois terços na Câmara Baixa, Abe poderá fazer a polêmica reforma da pacifista Constituição japonesa, seu grande cavalo de batalha.

Este politico hiperativo e trabalhador, que mantém relações excelentes com o presidente americano, Donald Trump, e o líder russo, Vladimir Putin, não esconde as tensões com seus vizinhos mais próximos, Coreia do Sul e China.

Abe, que utiliza sua esposa Akie - aparentemente muito mais liberal que ele - para abrandar sua dura imagem, conta com uma ampla experiência na impiedosa política japonesa, na qual se manter no poder é uma proeza.

Se vencer as eleições, conseguir ser reeleito como presidente do PLD no ano que vem e se mantiver no poder até novembro de 2019, Abe se transformará no premiê com mais tempo no cargo na história de Japão, um recorde que agora é ostentado por Taro Katsura, que governou durante 2.886 dias no início do século 20.

Do que não resta dúvida é que este politico conservador de fortes convicções nacionalistas, que governou durante um breve mandato entre 2006 e 2007 com mais sombras que luzes, leva o poder no sangue.

Seu avô, a quem encontra habitualmente, foi o ambicioso e imperialista primeiro-ministro Nobusuke Kishi, detido como criminoso de guerra, ainda que depois tenha sido perdoado. E seu pai, Shintaro Abe, foi ministro das Relações Exteriores nos governos do carismático Yasuhiro Nakasone na década de 1980.

Formado em Ciências Políticas em 1977 pela Universidade Seikei de Tóquio, Abe completou os estudos na Universidade do Sul da Califórnia (USC) antes de se integrar ao mercado de trabalho em 1979 na siderúrgica Kobe Steel.

Três anos mais tarde, Abe começou a se envolver em assuntos políticos como assessor de seu pai, que pouco depois assumiria a pasta de Relações Exteriores, mas apenas em 1993 obteve uma cadeira de deputado do PLD pela província de Yamaguchi.

Esta trajetória meteórica se consolidou em 2003 com a nomeação como secretário-geral do seu partido, um cargo que compaginou com o de porta-voz do governo de Junichiro Koizumi (2001-2006), a quem sucederia em 2006 como primeiro-ministro.