Topo

Acnur pede à América Latina que "dê respostas aos refugiados venezuelanos"

Marcos Corrêa/PR
Imagem: Marcos Corrêa/PR

Eduardo Davis

De Brasília

19/02/2018 20h00

O titular do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Filippo  Grandi, pediu nesta segunda-feira (19) aos governos da América Latina que ofereçam "respostas aos refugiados venezuelanos" que se espalharam pela região durante o último ano.

"Repito o que o secretário-geral da ONU, António Guterres, já disse: esperamos que a situação na Venezuela seja solucionada e rápido", mas, até que isto ocorra, "é necessário" dar uma "resposta meramente humanitária, não política", ressaltou o diplomata italiano durante um evento da Acnur realizado em Brasília.

Em uma coletiva ao lado do chanceler Aloysio Nunes, Grandi avaliou o "esforço" que o Brasil faz para acolher dezenas de milhares de venezuelanos que chegaram ao estado de Roraima fugindo da crise econômica, política e social em seu país.

Grandi, que também foi recebido hoje pelo presidente Michel Temer, assinalou que o governo brasileiro deu uma resposta "satisfatória" para a imigração maciça de venezuelanos, mas admitiu que o país tem dificuldades para lidar com essa situação e que necessita de ajuda.

Nesse sentido, Grandi ofereceu ao governo federal o "apoio irrestrito" de Acnur para fazer frente a essa situação e foi além, ao afirmar que se "comprometeu" com Temer a "buscar apoio na comunidade internacional para essa tarefa".

Segundo dados da Acnur, cerca de 133 mil venezuelanos solicitaram refúgio em outros países entre 2014 e 2017. A estes se somam outros 363 mil que recorreram a "alternativas legais", que são oferecidas especialmente por países latino-americanos.

Nesse caso, são iniciativas adotadas por governos, entre os quais o brasileiro, que decidiram receber os imigrantes venezuelanos e facilitar tanto a sua documentação como o seu acesso aos serviços de atendimento público e ao mercado de trabalho.

Dos venezuelanos que deixaram seu país, cerca de 40 mil chegaram no ano passado a Roraima, um dos estados mais pobres do Brasil, que carece da estrutura necessária para atender a essa imigração e cuja fronteira foi reforçada hoje com 30 agentes da Força Nacional de Segurança.

O governo federal declarou Roraima em "situação de vulnerabilidade" e iniciou estudos para distribuir esses imigrantes por outras regiões do país, tudo dentro de programas que levam à regularização de sua situação e que são apoiados pelo escritório local da Acnur.

Segundo Aloysio Nunes, "falar do drama dos refugiados é falar de conflitos, de ditaduras, da destruição de modos de vida, mas também é falar de solidariedade, humanidade e respeito" e "isso é o que os refugiados encontram no Brasil".

Grandi disse que essas "boas práticas", assim como outras similares que foram desenvolvidas no México, no Chile e em outros países, supõem um "modelo" a ser seguido que pode ser aplicado inclusive nas nações mais desenvolvidas.

O alto comissário também se mostrou convencido de que essas iniciativas deverão ser incorporadas às recomendações que serão colocadas no Pacto Global sobre Refugiados, que a Acnur pretende levar à Assembleia Geral das Nações Unidas ainda este ano.

As propostas da América Latina e do Caribe para o pacto serão decididas amanhã, durante a última jornada da conferência em Brasília, que reúne delegados de 36 países da região.

Segundo informações da Acnur, a América Latina e o Caribe acolhem hoje 16% das 65 milhões de pessoas que foram deslocadas de seus países por conflitos, guerras e diversos tipos de perseguição no mundo, um número que, segundo a ONU, tenderá a crescer nos próximos anos.