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Pesquisas mostram panorama incerto em eleições presidenciais na Venezuela

O presidente venezuelano Nicolás Maduro durante campanha em Caracas - Juan Barreto/AFP
O presidente venezuelano Nicolás Maduro durante campanha em Caracas Imagem: Juan Barreto/AFP

Héctor Pereira

Caracas

17/05/2018 19h09

O apelo da oposição para que a população se abstenha de ir às urnas nas eleições presidenciais do próximo domingo (20) na Venezuela condicionou com as previsões das pesquisas.

O presidente e candidato à reeleição, Nicolás Maduro, lidera as intenções de voto nas pesquisas de opinião, seguido pelo ex-governador Henri  Falcón, o ex-pastor evangélico Javier Bertucci e o engenheiro Reinaldo Quijada, que praticamente não fez campanha.

Apesar de o país ter entrado na pior crise econômica da sua história recente durante a atual administração, Maduro lidera, entre outras razões, pela decisão da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) de não apresentar candidatos por considerar que a eleição será uma fraude.

As empresas que tradicionalmente estudam o comportamento do eleitor venezuelano concordam ao classificar como "atípico" o pleito que acontecerá e enxergam na abstenção um enigma que impede projeções categóricas sobre o resultado final.

O presidente da Datanalisis, Luis Vicente León, disse à Agência Efe que a conexão entre a preferência popular e o voto que de fato será dado não está clara no momento "pelo controle institucional do Estado sobre a eleição" e pelo chamado ao não voto do antichavismo. De acordo com o pesquisador, uma participação alta beneficiaria Falcón, um ex-chavista que desobedeceu a MUD ao cadastrar a sua candidatura.

Segundo ele, foi por isso que o ex-governador intensificou a campanha nas duas últimas semanas ao desafiar os que incentivam a abstenção a propor uma ideia melhor para tentar sair da crise.

Opinião parecida tem o diretor da empresa de estatística Delphos, Félix Seijas. Para ele, existe ainda a possibilidade de um resultado "muito fechado" entre Maduro e Falcón, se a abstenção for de mais de 40%.

"É uma eleição que vai terminar muito equilibrada, alguma surpresa poderia acontecer se tiver uma participação maior do que a esperada", disse ele à Efe, ressaltando que a participação dos eleitores pode não passar dos 55%.

Segundo Seijas, o candidato governista tem um máximo de 6 milhões e a sua principal tarefa é mobilizar toda essa gente para o dia da votação. Além disso, se os venezuelanos aplicarem o princípio da "economia de voto", que consiste em terminar apoiando o candidato com mais chances de vencer o governista, Falcón aumentaria as suas possibilidades e Bertucci perderia espaço.

Os dois pesquisadores ressaltaram que a preferência das pessoas é majoritariamente pela oposição, mas Seijas afirmou que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), um ente no qual a oposição não acredita, anunciará Maduro como ganhador "independentemente dos votos que as urnas apresentem na votação".

Ambos concordaram ainda que é "impressionante" o crescente apoio de Bertucci e classificaram o candidato como "fora da curva", que conseguiu reunir o apoio dos eleitores descontentes com os políticos tradicionais e o de milhares de evangélicos que o seguem, apesar de não ser uma "opção real" na primeira tentativa.

"É um personagem praticamente desconhecido, sem experiência política nem apoio partidário. Se conseguir 10% dos votos será muito impressionante. Líderes que acreditam ser muito importantes na oposição e têm anos na política não chegam a 3%", disse o presidente da Datanalisis.

Outros pesquisadores mais próximos ao governo, como o presidente da Hinterlaces, Oscar Schemel, e o diretor da Consultores 30.11, Germán Campos, alertaram que uma união entre Falcón e Bertucci não seria suficiente para derrotar a Maduro nas urnas.

Em entrevista à Unión Radio, no entanto, Schemel disse que a maior ameaça para o chavismo é a abstenção que pode surgir do seu próprio eleitorado.