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Hiroshima e Nagasaki lembram horror nuclear com cada vez menos remanescentes

24/07/2018 06h02

Edurne Morillo.

Hiroshima (Japão), 24 jul (EFE).- Mais de 70 anos depois do bombardeio nuclear sobre Hiroshima e Nagasaki, o número de sobreviventes da tragédia diminuiu ano a ano e, com ele, as lembranças do horror vivido, o que motivou as duas cidades japonesas a buscarem novas formas de preservar sua história.

Setsuo Uchino tinha um ano e nove meses quando a bomba caiu sobre Nagasaki. Ele foi levado pela mãe para um esconderijo nas rochas, e ela tentou fazer o mesmo com os outros dois filhos, que então tinham 3 anos e 7 meses. Uma explosão, porém, ocorreu no caminho de volta para casa, onde eles estavam.

"Assim que minha mãe foi socorrida, ela saiu correndo para casa e a encontrou destruída. Pensou que meus dois irmãos tivessem morrido", contou Uchino a um grupo de jornalistas estrangeiros durante um tour para a imprensa organizado pelo Ministério das Relações Exteriores do Japão.

Aos 74 anos, o homem de aspecto risonho mantinha o controle emocional enquanto relatava que sua mãe encontrou os dois filhos embaixo dos escombros, com vida, e que depois, desesperada pela fome e por não conseguir alimentar os filhos, tentou se suicidar.

A história guarda semelhanças com as de outros "hibakusha", os sobreviventes da bomba atômica. Pessoas que têm hoje, pelo menos, 73 anos e que morreram nas últimas décadas pelos efeitos secundários da radiação ou por causas naturais.

Mais de 100 mil "hibakusha" continuam vivos, de um total de 650 mil reconhecidos pelo governo japonês desde a tragédia.

Marcados como sobreviventes, esses japoneses são vistos com respeito em seu país, mas também arrastaram com eles durante todos esses anos uma série de preconceitos que muitas vezes os levaram à exclusão social ou à associação exclusiva com outros "hibakusha".

No entanto, sua importância é fundamental no Japão de hoje, onde as novas gerações crescem sem conhecer o que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki, e como as duas cidades se transformaram nas tristes protagonistas dos dois únicos bombardeios nucleares da história.

Os Estados Unidos realizaram o primeiro ataque nuclear sobre a cidade de Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945 e, três dias depois, lançaram uma segunda bomba atômica sobre Nagasaki, o que terminou com a rendição do Japão no dia 15 de agosto e pôs fim à Segunda Guerra Mundial.

"Os estudantes japoneses conhecem a data e a hora dos ataques, mas, muitas vezes, isso é tudo", lamentou Kosei Mito, um voluntário que passou os últimos 12 anos contando sobre a história em frente à Cúpula da Bomba Atômica, um símbolo para a paz em Hiroshima.

Mito é considerado um sobrevivente "in utero", já que ainda não tinha nascido no momento do ataque. No entanto, seus pais lhe contaram o que aconteceu, e ele se sente na "obrigação" de fazer o mesmo com as próximas gerações.

Como a idade média dos sobreviventes é de 82 anos, as cidades de Hiroshima e Nagasaki buscam agora novas formas de lembrar a história, principalmente diante das tendências recentes que aumentaram as tensões nucleares no mundo.

O Museu de Hiroshima tem gravado em vídeo os testemunhos de centenas de "hibakusha" durante décadas e acrescenta a cada ano cerca de 100 relatos. Atualmente, dispõe de uma coleção com mais de mil histórias que podem ser vistas em cabines especiais em suas dependências.

Para ajudar neste processo, a cidade também tem treinado os "sucessores do legado da bomba atômica", mais de cem voluntários de diferentes idades e profissões que estudam durante três anos como transmitir a mensagem para a paz.

"Temos que nos esforçar para preservar, disseminar e transmitir a realidade sobre as armas nucleares", destacou o responsável da Divisão pela Paz da cidade de Hiroshima, Hirotaka Matsushima.