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Triunfo de Abdo Benítez divide coloradismo e deixa Cartes fora do Senado

21/12/2018 23h21

Assunção, 21 dez (EFE).- A vitória de Mario Abdo Benítez nas eleições de abril no Paraguai ajudou a promover uma ruptura dentro do partido governante, o Colorado, que persiste até os dias de hoje entre os partidários do atual presidente e os de seu antecessor, Horacio Cartes.

Longe de uma moderação, o desencontro entre os dois grupos voltou à tona em novembro com um fogo cruzado de acusações entre Abdo Benítez e Cartes, o que não dá indícios de uma possível reconciliação na legenda conservadora.

Abdo Benítez lidera o grupo Colorado Añetete, que está em plena rota de colisão com a corrente Honra Colorada, de Cartes.

Os dois grupos mediram forças nas eleições internas do partido para definir quem seria o candidato à presidência no pleito geral em abril.

O ganhador foi Abdo Benítez, que derrotou Santiago Peña, candidato de Cartes e ministro da Fazenda de seu governo.

O processo eleitoral foi duro, com o grupo Colorado Añetete questionando a candidatura de Peña por sua afiliação anterior ao opositor Partido Liberal e criticando o papel de Pedro Alliana, presidente do partido e pertencente ao grupo de Cartes.

Mas com Abdo Benítez como candidato oficial, Cartes o apoiou e colocou toda a máquina do partido a sua disposição para vencer em abril o liberal Efraín Alegre, seu principal rival no caminho à presidência.

No entanto, as relações entre os dois pesos pesados do coloradismo já estavam rompidas quando Abdo Benítez assumiu a presidência em agosto, e devido à tentativa frustrada de Cartes de tomar posse como senador.

Cartes foi eleito senador nas eleições, por isso apresentou no fim de maio sua renúncia à presidência para não cair na duplicidade de funções e poder tomar posse em junho junto com os outros legisladores escolhidos no pleito.

A renúncia, que devia ter sido aceita pelo Senado, não prosperou diante da falta de quórum na votação, com a ausência de vários senadores do Colorado Añetete.

Esses senadores defendiam, junto a outros da oposição, que a Constituição estabelece que um ex-presidente se transforma em senador vitalício, sem direito ao voto, quando termina o mandato.

Já antes das eleições, e com base nessa interpretação, algumas forças da oposição impugnaram a candidatura de Cartes.

Frustrado em seu plano, Cartes retirou em junho sua renúncia à presidência, quando era evidente que o Colorado Añetete não apoiaria sua pretensão de ocupar durante cinco anos uma cadeira como senador ativo.

Além disso, Cartes viu ruir sua aposta para que a presidência fosse desempenhada por Alicia Pucheta, que renunciou como magistrada da Corte Suprema por uma proposta do ex-presidente.

Isso se resolveu quando o Congresso designou em maio Pucheta como vice-presidente, que teria sido a primeira mulher a exercer o cargo de presidente, se bem que só até 15 de agosto, data da transferência de poder para Abdo Benítez.

Pouco antes de Cartes retirar sua renúncia, o Honra Colorada já tinha anunciado a ruptura de negociações com Colorado Añetete, assim como sua configuração como bancada independente no Congresso.

Então, o grupo de Cartes falou de traição e acusou o Colorado Añetete de não corresponder ao apoio dado pelo ex-presidente a Abdo Benítez nas eleições gerais.

O Colorado Añetete, por sua vez, respondeu que nunca estabeleceu uma troca de favores e que Cartes não digeriu o fato de que Peña não ganhou as eleições internas.

A divisão ficou clara durante a posse de Abdo Benítez, à qual não compareceram representantes do Honra Colorada.

Depois de seis meses, a divisão segue evidente, sem sinais de uma possível conciliação entre as partes.

Assim, no fim de novembro, durante a convenção do Honra Colorada, Cartes direcionou toda a sua artilharia contra o grupo dissidente quando assinalou que Abdo Benítez estava fazendo acordos com "inimigos do Partido Colorado", em referência a representantes da oposição.

Abdo Benítez, por sua vez, respondeu que não daria ouvidos aos comentários de Cartes por questão de "saúde mental".

Assim, a ruptura entre os grupos dissidentes se agravou, sem que haja sinais de que será eliminada por seus principais atores.

Não obstante, alguns analistas lembram que isso não é nenhuma novidade em um partido acostumado com essas lutas internas e que tem uma hegemonia política, com 2 milhões de filiados, que lhe permite inclusive exercer a função da oposição. EFE