Vitória eleitoral de Imran Khan marca 2018 turbulento para o Paquistão
Jaime León.
Islamabad, 21 dez (EFE).- A vitória do ex-jogador de críquete Imran Khan nas eleições gerais de julho, em meio a acusações de fraude eleitoral, marcou um ano turbulento no Paquistão, que viu pela segunda vez em sua história um governo democrático passar o comando a uma nova administração após completar um mandato.
Khan, de 65 anos, liderou o partido Movimento Paquistanês pela Justiça (PTI) na vitória eleitoral de 25 de julho com uma mensagem anticorrupção, ataques contra as elites tradicionais e a promessa de criar um Estado do bem-estar islâmico.
O PTI obteve 157 cadeiras das 342 da Assembleia Nacional (NA, Câmara Baixa) em jogo nas eleições, muito à frente da Liga Muçulmana do Paquistão (PML-N), do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif.
Sharif viu as eleições da prisão, após ser condenado semanas antes do pleito a 10 anos por corrupção, embora tenha sido libertado em setembro, depois que o Tribunal Superior de Islamabad suspendeu a condenação.
A aliança do PTI com outros partidos menores o ajudou a conseguir 178 cadeiras na NA, suficientes para que em 18 de agosto o homem que liderou a seleção paquistanesa de críquete em uma improvável vitória na Copa do Mundo de 1992 fosse nomeado primeiro-ministro após 21 anos na política.
Essas eleições foram a segunda vez no país na qual um governo acabava um mandato eleitoral completo e dava passagem a um novo, após o Paquistão ter passado metade de sua história sendo governado por militares.
Mas longe de uma celebração do fortalecimento da democracia no país, o pleito foi marcado por denúncias de fraude eleitoral, assédio a membros do PML-N e à imprensa para favorecer o PTI.
Partidos e grupos de direitos humanos acusaram os "poderes estabelecidos", termo com o qual se faz alusão ao todo-poderoso Exército.
Após a votação, o anúncio dos resultados foi atrasado por mais de dois dias e vários partidos denunciaram que seus representantes foram expulsos de colégios eleitorais durante a apuração.
Apesar de tudo isso, Khan foi nomeado primeiro-ministro.
Um dos principais desafios do novo governo foi a absolvição no dia 31 de outubro da cristã Asia Bibi, condenada à pena de morte pelo crime de blasfêmia em 2010.
Quase imediatamente depois do anúncio da decisão do Tribunal Supremo, o partido islamita Tehreek-e-Labbaik Pakistan (TLP) convocou protestos que paralisaram parte do país durante três dias.
As manifestações duraram até que o governo de Khan chegou a um acordo com o TLP no qual se comprometeu a proibir Asia de sair do país enquanto o Supremo estuda um recurso contra sua absolvição.
A cristã foi libertada da prisão em 7 de novembro e transferida a um local "seguro", segundo o governo, à espera de que o Supremo estude o recurso.
Após a aparente inatividade inicial contra os islamitas, no final de novembro o governo anunciou a detenção do líder do TLP, Khadim Hussain Rizvi, além de outros líderes do partido e de centenas de membros da legenda.
Em 1º de dezembro, o Executivo deu mais um passo além com a decisão de empreender ações legais por terrorismo e traição contra Rizvi, seu braço direito, Afzal Qadri, entre outros, pelos protestos contra a absolvição da Asia.
No plano internacional, o Paquistão continuou a queda de braço que mantém desde a última legislatura com os Estados Unidos, que em janeiro anunciaram a suspensão da maior parte da sua ajuda de segurança ao país asiático - mais de US$ 1 bilhão - por sua suposta inatividade em relação aos talibãs afegãos.
Em meados de novembro, o presidente americano, Donald Trump, acusou ao governo paquistanês de ter ajudado a esconder em seu território Osama Bin Laden e de não ter feito nada pelos EUA, apesar do envio de US$ 1,3 bilhão ao ano.
Khan respondeu energicamente em sua conta no Twitter e ressaltou que nenhum país ajudou os EUA na guerra contra o terrorismo como fez o Paquistão e disse que a ajuda de Washington é minúscula. EFE
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