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Último líder da era soviética, Nazarbayev sai de cena após quase 30 anos

19/03/2019 15h59

Astana, 19 mar (EFE).- Nursultan Nazarbayev, o último dos líderes de oblasts (repúblicas) da União Soviética ainda no poder, deixou nesta terça-feira o primeiro plano da cena política ao anunciar sua renúncia como presidente do Cazaquistão após governar o país durante quase 30 anos.

Em uma surpreendente mensagem à nação, o presidente cazaque, de 78 anos, anunciou que amanhã não estará mais à frente do país, mas disse que continuará na liderança do partido governista Nur Otan e do Conselho de Segurança do país.

Nazarbayev, que chegou à chefia do Partido Comunista do Cazaquistão em 1989, dois anos antes do fim da União Soviética, foi então um dos principais apoiadores de Mikhail Gorbatchov em seus esforços de impedir a desintegração da superpotência.

Após o colapso do império soviético, ele defendeu ativamente a conservação dos laços entre as repúblicas soviéticas, sendo um dos mais fervorosos apoiadores da nova Comunidade de Estados Independentes (CEI).

Além de conservar as boas relações com Moscou, o líder cazaque abriu seu país à cooperação com Ocidente e Oriente, uma política que lhe permitiu posicionar o Cazaquistão na comunidade internacional.

Um exemplo disso foi a presidência rotativa da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) exercida em 2010 pelo Cazaquistão, que tem cerca de 18 milhões de habitantes e é o nono maior país do mundo em extensão territorial.

Um dos grandes méritos atribuídos a Nazarbayev é o fato de o Cazaquistão ser a única das ex- repúblicas soviéticas, sem contar as bálticas - Estônia, Letônia e Lituânia -, que não foi palco de violência ou se viu envolvida em conflitos armados.

O presidente cazaque considera que a transição à democracia deve se assentar sobre uma base econômica sólida e propôs como meta que o país, possuidor de grandes reservas de petróleo, gás e urânio, se situe entre os 30 países mais desenvolvidos do mundo antes de 2050.

Em 2010 ele foi declarado pelo Parlamento "pai da nação", título que obriga que sejam pactuados com ele, inclusive depois de sua aposentadoria, todos os assuntos relacionados com a segurança do país, assim como com sua política externa e interna.

Os opositores o acusam de ter criado um regime corrupto e de tentar acabar com qualquer oposição política.

Nas eleições presidenciais de 2015, boicotadas pela oposição, Nazarbayev obteve 95,55% dos votos.

No dia do pleito, um dos assessores de Nazarbayev disse que os observadores da Assembleia Parlamentar do Conselho Europeu aprovariam o caráter democrático da votação, e por fim eles consideraram que o resultado refletiu a vontade dos cazaques.

Enquanto Nazarbayev estava no comando, a estabilidade no país era garantida, mas fazia um tempo que a avançada idade do líder cazaque tinha colocado sobre a mesa o problema da sucessão.

Casado com a economista Sara Nazarbayeva, Nazarbayev tem três filhas. A mais velha delas, Dariga, exerceu o cargo de vice-presidente do governo e atualmente ocupa uma cadeira no Senado.

Em um certo momento, alguns analistas contemplaram a possibilidade de uma sucessão dinástica, como ocorreu no Azerbaijão, onde em 2003 Ilham Aliyev sucedeu seu pai, Heydar, no poder, mas atualmente esta opção foi descartada.

"Acredito que (Qasim-Zhomart) Tokayev é justamente a pessoa a quem podemos confiar o governo do Cazaquistão", disse hoje Nazarbayev, ao se referir ao presidente do Senado, que amanhã assumirá as funções do chefe de Estado.

Segundo a Constituição cazaque, Tokayev exercerá as tarefas presidenciais durante o restante do mandato de quatro anos obtido por Nazarbayev nas urnas em 2015. EFE