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Professor decapitado em ataque jihadista é homenageado em mesquitas na França

20.out.2020 - Parentes e amigos seguram uma foto do professor Samuel Paty em homenagem em Conflans-Sainte-Honorine; ele foi decapitado em um atentado que chocou a França - Bertrand Guay/AFP
20.out.2020 - Parentes e amigos seguram uma foto do professor Samuel Paty em homenagem em Conflans-Sainte-Honorine; ele foi decapitado em um atentado que chocou a França Imagem: Bertrand Guay/AFP

23/10/2020 17h58

Drancy (França), 23 out (EFE).- Diversas mesquitas na França prestaram homenagem nesta sexta-feira ao professor Samuel Paty, que foi decapitado há exatamente uma semana por um terrorista islâmico.

"Podemos discordar das caricaturas (mostradas por Paty em sala de aula, o que teria motivado o assassinato), mas nunca apoiamos a violência, nunca o ódio. Respeito pelos outros e pela vida humana", disse a jornalistas em frente à mesquita de Drancy o imã Hassen Chalghoumi, presidente da Conferência de Imãs da França, que havia pedido um minuto de silêncio em memória de Paty.

Um dos nomes mais conhecidos e controversos do islã moderado na França e ameaçado de morte por fundamentalistas, Chalghoumi estava acompanhado por membros do conselho municipal de Drancy, cidade nos arredores de Paris, após uma oração que contou com a presença de centenas de pessoas.

O grande número de presentes em Drancy se deveu em parte ao fechamento da mesquita Pantin, a pouco mais de um quilômetro de distância, decidido nesta semana pelas autoridades porque compartilhou nas redes sociais o vídeo gravado pelo pai de uma aluna da escola de Conflans-Sainte-Honorine que iniciou uma campanha contra Paty antes do assassinato.

"Venho a esta mesquita todas as sextas-feiras. Hoje, na oração, eles falavam de respeito pela sociedade, de secularismo, de convivência. Vivo na França há 50 anos e nunca pus os pés em uma mesquita onde me foi dito o que fazer. Viemos, rezamos e nos sentimos mais próximos dos outros", explicou Abderraman Habri, um muçulmano de origem argelina.

Habri afirmou que os muçulmanos vivem em geral em harmonia na França, mas não costumam "ver com bons olhos" caricaturas do profeta Maomé como as exibidas por Paty a estudantes.

"Mas não devemos nos fixar nesse pequeno detalhe. Devemos pensar na coexistência". Na França somos livres, podemos criticar, fazer o que quisermos e temos os mesmos direitos que os outros", enfatizou.

A Grande Mesquita de Paris também prestou homenagem a Paty logo pela manhã. Durante a oração, o imã reiterou que ninguém pode "tirar a vida que Deus tornou sagrada".

"Não faremos discursos inúteis. Agora é hora de agir, e isso significa a responsabilidade tanto de muçulmanos quanto de não-muçulmanos", disse o reitor da mesquita, Larbi Khaled à rede "BFM TV".

Em outras cidades da França, os apelos dos líderes religiosos pela liberdade de expressão como "um ponto fundamental dos valores da França" se multiplicaram, segundo palavras de Said Khalmi, reitor da mesquita Hérouville-Saint-Clair.

O professor de história e geografia Samuel Paty, 47 anos, foi brutalmente assassinado na última sexta-feira quando estava deixando a escola onde lecionava, uma semana após uma discussão acalorada sobre a exibição de caricatura de Maomé em um curso sobre liberdade de expressão.

O pai de uma estudante, atualmente em prisão preventiva, iniciou uma campanha de difamação contra ele que, segundo os investigadores do caso, estava diretamente ligada ao ato do jihadista checheno de 18 anos que o decapitou.

O terrorista foi morto pela polícia, e sete pessoas foram processadas pela Procuradoria Nacional Antiterrorismo na primeira semana da investigação, seis como cúmplices, incluindo dois adolescentes que disseram ao assassino quem era o professor em troca de cerca de 300 euros.