Ativistas relatam 537 detidos desde protestos do dia 11 em Cuba
Ativistas documentaram 537 pessoas detidas em Cuba desde os protestos por liberdade e contra o governo ocorridos no último dia 11, incluindo menores de idade.
Durante e após as manifestações, que variaram de pacíficas a confrontos com a polícia e saques em algumas localidades, houve uma onda de prisões de participantes e supostos instigadores, incluindo cidadãos anônimos, artistas, ativistas da oposição e jornalistas independentes.
O governo não forneceu dados sobre o número de detidos, mas algumas ONGs fizeram suas próprias contagens.
Lista colaborativa
Ativistas fizeram circular uma lista interativa que permite aos usuários inserir não apenas os detalhes pessoais daqueles que foram detidos, como informações úteis como a data e hora da prisão e o local onde eles foram vistos pela última vez.
A lista já inclui 537 nomes em todo o país, incluindo 11 menores de idade.
Os detidos geralmente são acusados de "desacato" ou "crimes contra a segurança do Estado". A ONG Cuban Prisoners Defenders denunciou que muitos dos detidos são submetidos a julgamento sumário, sem a possibilidade de acesso à representação legal adequada.
Alguns deles foram liberados nos últimos dias, uma parte sem acusação formal e outra foi colocada sob prisão domiciliar aguardando julgamento.
Entre estes últimos ganhou repercussão o depoimento de um estudante universitário, Leonardo Romero Negrín, que alegou ter sofrido espancamentos e assédio durante os dias em que ficou preso por participar de uma manifestação pacífica em Havana.
O site "La Joven Cuba", um canal de comunicação para os intelectuais de esquerda do país, revelou o depoimento completo do estudante e pediu uma "comissão da verdade" para investigar supostos abusos das autoridades.
Outro jovem libertado nos últimos dias disse à Agência Efe - pedindo que seu nome não fosse divulgado - que não sofreu espancamentos ou humilhações na prisão - somente durante o protesto - e foi tratado "normalmente", exceto pelos interrogatórios irritantes e verbalmente agressivos, às vezes nas primeiras horas da manhã.
Igreja atua
A comunidade católica, por sua vez, também está se movendo para ajudar aqueles que são presos.
A Conferência Cubana de Religiosos, que reúne todas as congregações em Cuba, começou a dar não apenas aconselhamento espiritual, mas também jurídico às famílias dos detidos.
A instituição as ajuda a apresentar pedido de habeas corpus para que saibam em qual presídio eles estão, embora "a lei cubana não dê muitas possibilidades", disse o padre jesuíta Eduardo Llorens, um dos líderes desta iniciativa, à Efe.
"Nós nos mobilizamos, porque o número de pessoas é grande. Isso tem um impacto na sociedade. São pessoas que não têm o perfil de criminosos comuns e que não tiveram problemas com a lei antes", acrescentou.
Novas damas de branco?
Um apelo também começou a se espalhar, assinado pelo recentemente criado "Movimento Mães", para que "todas as mães, tias, irmãs, namoradas e avós" cujos parentes "morreram, foram feridos ou desapareceram desde 11 de julho" vão para as ruas na quarta-feira em todo o país.
O coletivo lembra as Damas de Branco, grupo formado por esposas e familiares dos 75 dissidentes presos durante a onda de repressão de 2003 conhecida como "Primavera Negra" e que durante anos protestou pacificamente exigir a libertação deles.
As prisões em massa têm atraído críticas da comunidade internacional.
Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, pediu nesta semana a libertação urgente dos detidos nos protestos, assim como uma investigação para punir os responsáveis se os abusos forem confirmados.
Os protestos de 11 de julho foram realizados em um momento em que o país está mergulhado em uma grave crise econômica e sanitária. A pandemia de covid-19 continua fora de controle, e os cubanos também sofrem com uma grave escassez de alimentos, medicamentos e outros bens básicos, além de frequentes e longos cortes no fornecimento de energia elétrica.
As autoridades cubanas, por sua vez, insistem em culpar os Estados Unidos tanto pelos protestos como pela extrema escassez no país.
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