CPI do Cachoeira

Relator da CPI diz que Perillo mentiu em depoimento

Em Brasília

  • Ueslei Marcelino / Reuters

Com base nas interceptações telefônicas da Polícia Federal e no depoimento do arquiteto Alexandre Milhomen, o relator da CPI do Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), disse nesta terça-feira que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), mentiu à comissão quando contou sua versão sobre a venda de um imóvel em Goiânia.

"Está evidente que a história foi montada. A história da casa é para esconder a relação do governador com o senhor Carlos Cachoeira", afirmou Cunha ao final da reunião da comissão.

Nesta terça, Milhomen disse à CPI que decorou o imóvel em questão e que quem pagou pela trabalho foi Carlos Cachoeira. O arquiteto estimou que a decoração custou cerca de 500 mil reais. O serviço teria sido feito em junho do ano passado, o que na avaliação do relator coloca por terra outras versões apresentadas para a negociação da casa de Perillo.

O governador tucano disse à CPI que vendeu o imóvel para o ex-vereador do PSDB em Goiânia Wladimir Garcez e que recebeu 1,4 milhão de reais em três cheques pagos entre março e maio de 2011. Os cheques para o pagamento saíram da empresa Excitant, que pertence à cunhada de Cachoeira, preso desde fevereiro, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais.

À época do negócio, Perillo disse que não olhou quem eram os emissores dos cheques. E contou à CPI que Garcez desistiu do negócio e o informou que estava revendendo o imóvel para o empresário Walter Paulo Santiago.

Santiago disse à CPI que comprou a casa diretamente do governador, em junho, e pagou 1,4 milhão de reais em dinheiro vivo. Contou ainda que a entrega do dinheiro foi presenciada por Garcez e pelo assessor do governado Lúcio Fiuza. Depois do depoimento de Santiago, Fiuza deixou o cargo no governo goiano.

Nesta terça, Fiuza compareceu à CPI, mas permaneceu calado.

Para a Polícia Federal e para o relator, todas essas versões são uma encenação para esconder a negociação verdadeira entre Cachoeira e Perillo.

Uma das provas disso seria que em maio Cachoeira telefona para Milhomen informando que fará a reforma e decoração de uma casa no condomínio Alphaville. Ou seja, antes de ser concluída a negociação entre Perillo, Garcez e Santiago.

"A prestação de serviços foi antes da aquisição da casa pelo senhor Walter Paulo. O que fica evidenciado é que quem contratou o arquiteto foi o Carlos Cachoeira para reformar a casa que ele comprou do governador", disse Cunha aos jornalistas.

"A investigação está levando a crer que o senhor Walter Paulo comprou a casa do Carlos Cachoeira enganado pela organização", disse o relator.

"Pelas interceptações telefônicas fica claro que eles combinam inclusive formas de convencer o senhor Walter Paulo que estava comprando diretamente do senhor Marconi Perillo. Se pode ter havido alguma mentira do senhor Walter Paulo é em relação ao valor pago", explicou.

Segundo o petista, a investigação da Polícia Federal mostra que o valor pago pela casa foi de 2,1 milhões de reais. Desses, 100 mil reais foram pagos em dinheiro como comissão para Garcez. Santiago teria pago ainda 1,4 milhão de reais em dinheiro e outros 500 mil reais foram pagos com cabeças de gado.

DIRECIONAMENTO

O rumo da investigação não agradou os parlamentares do PSDB, que voltaram a criticar o relator, dizendo que ele está servindo os interesses do PT e direcionando os trabalhos para atacar Perillo.

"A postura do relator ... não sei se cumprindo uma missão partidária ou um pedido do pessoal ex-presidente Lula, é muito ruim para esta CPI", disse o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) durante o depoimento do arquiteto.

"Não é possível ouvirmos, entre hoje (terça) e amanhã (quarta), sete pessoas ligadas ao governador Marconi Perillo e, na quinta-feira, três pessoas ligadas ao governador Agnelo", disse em referência ao governador petista do Distrito Federal, Agnelo Quieroz.

"Vossa excelência acha que o Brasil não percebe? Vossa excelência não acha que é ruim para esta CPI todos se aperceberem do seu direcionamento?", disse Sampaio.

"Se o governador Marconi Perillo não devesse nada não haveria sete pessoas do primeiro escalão do governo citadas de maneira sistemática nas interceptações telefônicas e não teríamos mais de 30 policiais civis, militares e federais que atuavam em Goiás com a organização criminosa", rebateu Cunha ao final da sessão, ao ser questionado sobre o suposto direcionamento dos trabalhos.

(Reportagem de Jeferson Ribeiro e Maria Carolina Marcello)

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