Chávez elogia democracia "perfeita" e zomba da imagem de tirano

Andrew Cawthorne

Em Caracas

  • Miguel Gutierrez/Efe

    Presidente reeleito da Venezuela, Hugo Chávez, conversa com jornalistas

    Presidente reeleito da Venezuela, Hugo Chávez, conversa com jornalistas

Um animado Hugo Chávez comemorou na terça-feira sua confortável reeleição como sinal de que a democracia na Venezuela é "perfeita', e zombou dos adversários que o descrevem como um ditador.

O líder socialista, que ocupa a Presidência desde 1999, obteve 55 por cento dos votos na eleição de domingo, com um expressivo comparecimento de 81 por cento do eleitorado. O resultado foi rapidamente aceito pelo candidato único da oposição, Henrique Capriles.

Com o novo mandato, Chávez poderá chegar a duas décadas de poder, para alegria de seus eleitores - principalmente venezuelanos pobres - e de governos aliados, como os de Cuba e Bolívia, que dependem do petróleo venezuelano e de outras formas de ajuda.

"Parte da mídia continua falando na ditadura da Venezuela, no tirano Chávez", disse o presidente a jornalistas. "Bom, temos uma democracia aqui, e isso voltou a ser reafirmado e ratificado, um sistema totalmente transparente, rápido e eficiente . Se você quiser ver uma democracia vigorosa e sólida, venha à Venezuela. Foi um dia perfeito."

A oposição costuma criticar Chávez, um ex-militar de 58 anos, por seu estilo polarizador, por sua retórica agressiva e por suas amizades com líderes autoritários do mundo todo.

Seus apoiadores, no entanto, lembram que ele se submeteu direta ou indiretamente a uma dúzia de votações desde que chegou ao poder, e citam a entrega de poderes e recursos a comunidades como prova das credenciais democráticas dele.

Embora haja poucas críticas sérias ao sistema eletrônico de votação usado no domingo, críticos dizem que a campanha foi distorcida a favor de Chávez, por causa do uso da máquina pública e da TV.

Como de hábito após suas vitórias eleitorais, Chávez adotou uma imagem mais moderada, chegando a telefonar para Capriles, com quem não falou durante a acirrada campanha.

Ele elogiou o rival por aceitar rapidamente a derrota, e pela primeira vez na terça-feira citou o nome dele - após várias semanas se referindo a Capriles apenas por insultos como "porco", "derrotado" e "fascista".

Capriles, governador do Estado Miranda, teve 44 por cento dos votos, um resultado satisfatório para um candidato da oposição, mas ainda assim frustrante para os antichavistas. "Onde há vida há esperança", disse ele pelo Twitter.

DÚVIDAS SOBRE A SAÚDE

Chávez venceu em 22 dos 24 Estados, graças ao seu carisma e aos vultosos gastos públicos em programas sociais, usando dividendos do petróleo. As atenções agora se voltam para a saúde de Chávez, que no último ano se submeteu a um tratamento contra um câncer pélvico. Uma reincidência da doença pode alterar significativamente o cenário político no país.

O presidente tem prometido aprofundar o socialismo na Venezuela, o que alguns interpretam como prenúncio de mais nacionalizações de empresas - possivelmente nos setores bancário, de saúde e alimentos.

O resultado eleitoral desanimou os mercados, e os títulos públicos tiveram queda - embora limitada, devido à expectativa de alguns operadores de que Chávez talvez não tenha condições físicas de cumprir todo o mandato.

O título de referência, o Global 2027, teve na terça-feira uma queda de quase 3,5 pontos, sendo negociado em torno de 87.

Capriles, que fez campanha tentando explorar a insatisfação popular com a criminalidade, a burocracia e a ineficiência dos serviços públicos, precisa agora decidir se irá buscar um novo mandato de governador, ou se assumirá algum tipo de liderança nacional.

Essa foi a primeira derrota eleitoral dele em duas décadas de carreira política, e analistas preveem que ele tentará novamente a Presidência, especialmente se Chávez voltar a adoecer nos próximos anos.

"Ele seria sábio em ser paciente e persistente", disse o analista norte-americano Michael Shifter. "Afinal de contas, (o ex-presidente) Lula, agora amplamente visto como o principal mago político da América Latina, precisou de quatro tentativas antes de alcançar a Presidência brasileira."

(Reportagem adicional de Enrique Andres Pretel em Caracas e Daniel Bases em Nova York)

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