Dia amanhece no "fim do mundo" do calendário maia, mas nada muda

Alexandra Alper

Em Chichén Itzá (México)

Por Alexandra Alper

CHICHEN ITZÁ, México, 21 Dez (Reuters) - A alvorada amanheceu nos antigos locais sagrados no sul do México para celebrações na sexta-feira, inaugurando o início de uma nova era para o povo maia, que havia sido anunciado como um possível fim do mundo.

Uma mistura de místicos, hippies e turistas de todo o mundo desceram para as ruínas das cidades maias para marcar o encerramento do 13o bak'tun --um período de cerca de 400 anos-- que muitos esperavam que levaria a uma época melhor para a humanidade.

Depois que o sol nasceu no México e o mundo continuou a girar, os visitantes do centro das terras maias agradeceram.

"Eu já sou grata apenas por estar aqui", disse Graham Hohlfelde, de 21 anos, um estudante de St. Louis, no Estado norte-americano do Missouri. "Espero que algo aconteça, que me faça uma pessoa melhor. Se eu conseguir alguma ajuda cósmica, eu não vou recusar. "

O fim do bak'tun no calendário maia, com duração de 5.125 anos, tinha espalhado temores ao redor do mundo que o fim estaria próximo, ou que uma catástrofe menor estaria a caminho.

No entanto, para as pessoas reunidas nas imponentes ruínas da cidade de Chichen Itzá, um ponto central para as comemorações no México, era completamente o oposto.

"Não é o fim do mundo, é o despertar da consciência, bondade, amor e espiritualidade --e isso está acontecendo há um tempo", disse Mary Lou Anderson, de 53 anos, consultora de tecnologia da informação de Las Vegas.

Um acadêmico norte-americano disse na década de 1960 que a data desta sexta-feira poderia representar uma espécie de "armagedom" para a civilização maia. Desde então, essa ideia se ampliou até se transformar na crença de que os maias haviam previsto a destruição da Terra.

Temores de suicídios coletivos, meteoritos, grandes apagões, desastres naturais, epidemias e do impacto de um asteróide sobre a Terra circularam pela Internet nos últimos meses.

A polícia chinesa prendeu nesta semana cerca de mil pessoas por espalharem boatos sobre a data, e autoridades da Argentina restringiram o acesso a uma montanha muito frequentada por buscadores de alienígenas, após rumores de que havia planos para um suicídio coletivo no local.

No Texas, o magnata dos videogames Richard Garriott de Cayeux decidiu dar a maior festa da sua vida logo depois da meia-noite, por via das dúvidas.

Mas especialistas na cultura maia, cientistas e até a Nasa insistem que os maias não previram o fim do mundo, e que não há nada com que se preocupar.

"Pense nisso como o ano 2000", disse James Fitzsimmons, especialista em cultura maia na faculdade Middlebury, em Vermont. "É o final de um ciclo e o começo de outro."

Os maias modernos ficaram intrigados com o desfile de exóticos tipos "new age" que apareceram nesta semana em suas aldeias.

"É puro Hollywood", disse Luis Mis Rodriguez, de 45 anos, que vende lembranças para turistas.

A civilização maia atingiu seu auge entre os anos 250 e 900, quando dominava amplas áreas do atual sul do México, Guatemala, Belize e Honduras. Eles desenvolveram uma escrita hieroglífica, um avançado sistema astronômico e um calendário sofisticado.

PREVISÕES APOCALÍPTICAS

Há uma longa tradição histórica de previsões sobre o fim do mundo.

Baseando-se em leituras proféticas da Bíblia, o grande cientista Isaac Newton citou certa vez 2060 como o ano em que o planeta seria destruído.

o pregador norte-americano William Miller previu que Jesus voltaria à Terra em outubro de 1844 para purgar a humanidade dos seus pecados. Quando isso não ocorreu, seus seguidores, os milleritas, se referiram ao fato como "A Grande Frustração".

Em 1997, 39 integrantes da seita Portão do Paraíso, acreditando que o mundo estava prestes a "ser reciclado", cometeram suicídio em San Diego para embarcar em uma nave alienígena que estaria viajando atrás de um cometa.

Mais recentemente, o radialista norte-americano Harold Camping previu que o mundo acabaria em 21 de maio de 2011, e posteriormente adiou a data em cinco meses.

(Reportagem adicional de Karen Brooks, Jilian Mincer e Gabriel Stargardter)

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