Premiê egípcio recua em ideia de dissolver Irmandade Muçulmana
CAIRO, 28 Ago (Reuters) - O Egito não deveria banir a Irmandade Muçulmana nem excluí-la da política depois da derrubada pelos militares do presidente islamita Mohamed Mursi, disse na terça-feira o primeiro-ministro interino, revertendo sua opinião declarada anteriormente.
A aparente reviravolta alimentou especulações de que o governo militar pode agora buscar um acordo político para a crise, mas também coincidiu com um novo pedido por protestos pelos partidários de Mursi.
Hazem el-Beblawi, o primeiro-ministro interino, propôs em 17 de agosto que a Irmandade, o grupo islâmico mais influente e antigo do mundo, deveria ser dissolvida, e disse que o governo estudava a ideia.
Em uma entrevista para a mídia estatal na noite de terça-feira Beblawi pareceu voltar atrás, dizendo que o governo iria em vez disso monitorar o grupo e sua ala política e que as ações de seus membros iriam determinar seu destino.
"Dissolver o partido ou o grupo não é a solução e é errado tomar decisões em situações turbulentas", disse Beblawi segundo a agência de notícias MENA.
"O melhor para nós é monitorarmos os partidos e os grupos no âmbito da ação política sem dissolvê-los ou fazê-los agir em segredo."
Não houve sinal da Irmandade, cuja maior parte dos líderes está agora na prisão ou foragido, de que quer se engajar com o establishment do Exército que a derrubou pela força.
Fundada em 1928, a Irmandade foi banida pelos então governantes militares do Egito em 1954. Embora ainda fora-da-lei durante os 30 anos de governo de Hosni Mubarak, ela dirigia uma ampla rede social e seus membros concorriam como independentes nas limitadas eleições.
Depois de décadas operando nas sombras e obtendo apoio para suas caridades e ensinamentos, a Irmandade se registrou como uma organização não-governamental em março em resposta a um desafio no tribunal por pessoas que contestavam sua legalidade.
O grupo também tem um braço político registrado, o Partido da Liberdade e Justiça, criado em 2011 depois da queda de Mubarak em um levante. A Irmandade ganhou todas as cinco eleições nacionais desde 2011, inclusive a eleição de Mursi para a Presidência em 2012.
Mas Mursi deixou muitos egípcios de lado durante seu primeiro ano no poder e, depois de protestos maciços contra ele, as Forças Armadas o removeram em 3 de julho.
Mais de 1.000 pessoas, inclusive cerca de 100 policiais e soldados, foram mortos desde então na pior violência interna na história da República egípcia. A maioria morreu quando as forças de segurança dispersaram dois acampamentos de protesto pró-Mursi em 14 de agosto. A mídia estatal descreveu a repressão como uma guerra ao "terrorismo".
Com a Irmandade em choque, os protestos incitados pelo grupo na sexta-feira passada não chegaram a se materializar em sua maior parte.
A Coalizão Nacional para Apoiar a Legitimidade e Rejeitar o Golpe, que inclui a Irmandade e exige a volta de Mursi ao poder, prometeu protestos nas ruas e praças de todas as 27 províncias do Egito nesta sexta-feira, e disse que iria "ativar um plano de desobediência civil pacífica".