ENTREVISTA-Velejadores competem com medo nas águas poluídas do Rio, diz campeão paralímpico

Por Karolos Grohmann

BERLIM (Reuters) - A má qualidade da água da Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, faz com que os velejadores paralímpicos temam constantemente por sua saúde durante as competições, já que os organizadores não cumpriram suas promessas, disse o campeão paralímpico Heiko Kroeger nesta terça-feira.

O experiente velejador alemão, que conquistou uma medalha de ouro na Paralimpíada de Sydney no ano 2000 e de prata em 2012 em Londres, disse que os colegas em cadeiras de rodas estarão especialmente vulneráveis nas águas poluídas durante a Paralimpíada na cidade brasileira entre os dias 7 e 18 de setembro.

"Normalmente, quando você está velejando você abre a boca e engole um pouco de água para se refrescar", contou Kroeger à Reuters um dia depois de voltar de uma competição no Rio.

"Mas na semana passada, no Rio, ficamos de bocas e narizes fechados e desviamos o rosto dos borrifos", disse.

"Velejo há muito tempo, mas nunca vi isso acontecer. Existe um temor constante nas nossas cabeças, o temor de ficar doente", afirmou o atleta, que também velejou na baía em setembro.

"Isso, é claro, afeta a competição, porque você sabe que, se adoecer, está fora."

Quando o Rio conquistou o direito de sediar a Olimpíada e a Paralimpíada em 2009, a cidade se comprometeu a reduzir a quantidade de esgoto sem tratamento na baía em 80 por cento, mas desde então confirmou que não irá cumprir essa meta.

A Guanabara, que também irá receber as provas de vela, maratona aquática e triatlon durante a Olimpíada, em agosto, tem níveis altos e perigosos de vírus e bactérias na água, como mostraram estudos independentes.

Em 2014, biólogos disseram que os rios que desaguam na baía contêm uma superbactéria que é resistente a antibióticos e pode causar infecções urinárias, gastrointestinais e pulmonares.

O Brasil ainda luta com a disseminação do Zika vírus, que está sendo ligado a um aumento alarmante no número de casos de microcefalia, uma má-formação craniana, em recém-nascidos.

"Vamos chegar ao Rio duas semanas antes da Paralimpíada, depois teremos seis dias de competições de vela e temos que permanecer saudáveis. É um tempo muito longo", disse Kroeger.

Ele disse que o clima quente e úmido já é uma desvantagem para os velejadores em cadeiras de rodas, e que a água poluída acrescenta mais um risco.

"Muitas vezes eles têm feridas abertas por causa das cadeiras, e nessa água ficam muito mais vulneráveis."

Segundo ele, o Comitê Olímpico Internacional (COI) também tem culpa por não fazer pressão para que os organizadores da Rio 2016 realizem um evento que não ameace a saúde e a segurança dos atletas.

O COI ordenou exames para detectar vírus causadores de doenças depois de receber aconselhamento da Organização Mundial de Saúde (OMS), mas afirmou ter confiança de que a qualidade da água estará adequada na época dos Jogos.

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