Disputa por assento no Conselho da Petrobras ameaça hegemonia de sindicatos

Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A disputa dos funcionários da Petrobras pela cadeira no Conselho de Administração da estatal trouxe neste ano para o segundo turno da eleição, pela primeira vez, um nome que não tem o apoio de grandes federações de petroleiros e ameaça a hegemonia dos sindicatos na representação dos trabalhadores no colegiado.

A engenheira de petróleo Betânia Coutinho teve, no primeiro turno, quase o mesmo número de votos que o técnico de segurança na Refinaria Landulpho Alves (RLAM) Deyvid Bacelar, candidato à reeleição, apoiado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP).

A eleição de Betânia, disse a própria candidata à Reuters, poderia colaborar para discussões mais técnicas no Conselho, que tem membros dos trabalhadores eleitos desde 2012. Enquanto Bacelar acusa a gestão da Petrobras de ter influenciado o resultado, o que é negado por sua oponente.

Betânia afirmou em entrevista por e-mail que quer contribuir com sua experiência de empregada de carreira na Petrobras, sendo uma alternativa apartidária para a defesa dos interesses dos empregados. Ela mostrou ser contra o atual plano de vendas de ativos da estatal, assim como seu oponente sindicalista.

"Nenhum empregado é a favor de ações que levem a desmontar a empresa. Nem nós!", exclamou Betânia, destacando que por trás de cada ativo à venda há milhares de empregados que podem ser impactados. O plano da Petrobras projeta desinvestimentos de mais de 14 bilhões de dólares em 2016, visando reduzir a maior dívida de uma petroleira no mundo.

Segundo Betânia, que se candidatou ao Conselho pela primeira vez em 2015, o equacionamento da dívida passa por vários pontos e ela acredita que seja provável algum tipo de aporte do governo. Mas, para ela, não deve ser a única solução e os funcionários têm que fazer a sua parte, buscando otimizar custos e tornar processos mais eficientes.

Betânia, funcionária da Petrobras desde 2004, recebeu 3.952 votos no primeiro turno, perdendo apenas para Bacelar, empregado da companhia desde 2006 e coordenador-geral do Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro Bahia), com 4.415 votos.

O resultado ocorreu apesar de a FUP, ligada ao PT, estar fazendo forte campanha para Bacelar, em diversos Estados, com a utilização de carros de som, panfletos e internet. Já Betânia usa o meio virtual e conta com o apoio de amigos.

Dos 56.856 eleitores da Petrobras controladora, 17.703 exerceram o direito de voto. O segundo turno teve início em 20 de fevereiro e termina no próximo domingo, com a apuração dos votos prevista para 29 de fevereiro.

ISOLADA?

Para Bacelar, a ausência de apoio sindical pesa contra Betânia. Segundo ele, a força por detrás da FUP e de seus sindicatos filiados é extremamente importante para a defesa dos interesses dos funcionários para além das quatro paredes das reuniões do Conselho de Administração.

"Isolada, sozinha, sem um apoio das entidades de classe, sem apoio dos sindicatos, sem apoio dos movimentos sociais, não vai poder muita coisa, vai ser apenas mais um sentado ali, na mesa do Conselho de Administração", afirmou Bacelar.

Segundo o candidato à reeleição, algumas de suas vitórias no colegiado aconteceram com o apoio da federação, como a criação de um grupo de trabalho para estudar alternativas para substituir as vendas de ativos, além de avanços da política de segurança e da obtenção se um assento em um comitê estratégico.

O apoio da FUP a Bacelar, entretanto, é questionado por alguns líderes sindicais da organização oponente, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP). Segundo eles, a FUP é influenciada constantemente por interesses do governo federal.

Bacelar, por sua vez, defende ter uma postura independente e cita como exemplo seus votos contra decisões da diretoria da Petrobras diversas vezes. Além disso, tem ameaçado romper com o governo caso a estatal não desista do atual plano de venda de ativos. Ele acredita que a solução para as dívidas da empresa poderia estar em algum tipo de aporte do Tesouro Nacional.

APOIO DE GERENTES?

Grande parte dos votos de Betânia no primeiro turno veio do Estado do Rio de Janeiro, o que segundo a candidata é natural, já que é onde ela trabalha e tem feito campanha com a ajuda de colegas e amigos. Bacelar também recebeu um número importante dos seus votos da Bahia, sua terra natal, onde fez grande parte de sua trajetória sindical.

O candidato afirmou, no entanto, que a concentração de votos é um dos indicativos de que Betânia tem apoio de parte da gestão, o que na sua avaliação poderia desqualificá-la. Segundo Bacelar, a FUP teve "evidências de e-mails de gerentes, principalmente ligados à E&P (Exploração e Produção) da Petrobras, que enviaram mensagens aos seus liderados fazendo campanha para a candidata".

Questionada sobre o tema, Betânia, que está há três anos na coordenação técnica de parcerias da Unidade de Operações do Rio de Janeiro, afirmou que recebeu mensagens de apoio de "muitos colegas de todas as áreas da empresa, com e sem funções gratificadas".

Procurada, a Petrobras não se pronunciou imediatamente sobre o assunto.

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