Vale avalia venda de ativos essenciais; mercado desfavorável gera desconfiança

  • Por Marta Nogueira e Stephen Eisenhammer

Por Marta Nogueira e Stephen Eisenhammer

RIO DE JANEIRO (Reuters) - A mineradora Vale avalia a venda de ativos essenciais para reduzir a sua dívida líquida em 10 bilhões de dólares em um cenário mais desfavorável, mas a meta gera desconfiança de analistas de mercado, que consideram as projeções da empresa pouco realistas.

O presidente da mineradora, Murilo Ferreira, afirmou nesta quinta-feira, após a Vale divulgar prejuízo líquido de 33,156 bilhões de reais no quarto trimestre de 2015, que a companhia tem como alvo reduzir a dívida líquida para 15 bilhões de dólares em 18 meses, ante o valor registrado no fim de 2015, de 25 bilhões de dólares.

A meta, segundo Ferreira, conta com o desinvestimento mais agressivo e não considera um eventual aumento de capital, que "neste momento" não está em análise.

"2015 foi um ano muito desafiador, e reconhecemos que a queda mais aguda dos preços das commodities pode representar um desafio da visão de desalavancar a Vale após o S11D (mega projeto de minério de ferro no Pará)", afirmou o presidente, em teleconferência com analistas e investidores.

O S11D é o maior projeto da história da mineradora, com investimentos de mais de 14 bilhões de dólares, que deve entrar em operação no segundo semestre deste ano.

Anteriormente, a companhia não considerava a venda de ativos essenciais, como, por exemplo, de minério de ferro.

"Estamos explorando opções mais agressivas para desalavancagem, incluindo (a venda de) ativos 'core'", disse Ferreira, frisando que a empresa não tem restrições sobre quais os ativos que podem ser vendidos.

Executivos da empresa não entraram em detalhe sobre quais os ativos essenciais que podem ser vendidos, após a companhia ter registrado no último trimestre de 2015 o pior resultado desde pelo menos a privatização da empresa, em 1997, com suas contas afetadas pelos baixos preços das commodities, que levaram a companhia a realizar uma expressiva baixa contábil.

Em conferência com jornalistas, no início da tarde, o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Luciano Siani, frisou que o plano da Vale envolve ainda a possibilidade de venda de participações, sem abrir mão de controle.

"Nós vamos examinar as oportunidades e todo o portfólio de ativos da companhia", afirmou Siani.

Segundo o diretor, a empresa vai se concentrar em buscar um equilíbrio entre os ativos que têm maior interesse, possibilidade de realização de venda, potencial de redução de dívidas e o portfólio que a companhia deseja ter no futuro.

Questionado se o S11D pode estar entre os ativos para a venda, Siani afirmou que "obviamente... ele está no topo da lista do que a gente quer manter no futuro", mas não entrou em detalhes se poderia ser vendida alguma parcela.

DESCONFIANÇA

Embora acreditem que a meta de redução da dívida líquida da Vale seja bem-vinda, analistas de mercado desconfiam da capacidade da companhia de atingi-la.

Os analistas Leonardo Correa e Caio Ribeiro, do BTG Pactual, afirmaram em relatório a clientes que algumas questões permanecem sem ser respondidas, como por que a empresa não realiza emissão de ações e como ela fará para vender ativos em um momento de mercado desfavorável.

"Continuamos cautelosos até que haja mais visibilidade sobre como a empresa pretende reduzir sua dívida líquida em mais de 10 bilhões de dólares", afirmaram.

O analista do Bernstein Paul Gait ressaltou à Reuters que a Vale está investindo alto para aumentar a capacidade de produção, em um momento em que o mercado está sobreofertado, o que contribui com a queda dos preços das commodities.

"É realmente irrelevante o que eles vendem. Esta não é a questão. Se eles querem desalavancar: que reduzam as vendas de minério de ferro e parem de gastar capex. Simples assim", afirmou Gait, por telefone.

Entretanto, o analista do UBS Andreas Bokkenheuser ponderou à Reuters que grande parte dos investimentos, programados anteriormente no embalo do boom das commodities, já foram gastos e que não há retorno em relação a isso.

"Você não pode colocar o gênio de volta na garrafa... o dinheiro foi gasto", afirmou. "Se você cortar fornecimento para equilibrar o mercado, acaba subsidiando seus concorrentes."

Às 16:45, as ações preferenciais de classe A caíam mais de 5 por cento, e os papéis ordinários recuavam 4,6 por cento, enquanto o Ibovespa operava em queda de 0,7 por cento.

MINÉRIO DE FERRO

A Vale acredita que os preços do minério de ferro, seu principal produto, devem permanecer no patamar de 50 dólares por tonelada por mais algum tempo, após um movimento de recomposição de estoques na China. Mas para a média de 2016 a mineradora projeta 45 dólares por tonelada, segundo o diretor-executivo de Ferrosos, Peter Poppinga.

No último ano, o preço do minério de ferro recuou 43 por cento ante 2014, para média de 55,5 dólares/tonelada, segundo dados da Vale.

Poppinga afirmou que nenhuma mina da Vale está operando com margem negativa, exceto a mina de Corumbá, em Mato Grosso do Sul, onde a empresa está reduzindo a produção de 6 milhões para 4 milhões de toneladas por ano.

Segundo o executivo, os cortes de produção em minas menos rentáveis em 2015, de cerca de 25 milhões de toneladas de capacidade, foram compensados por unidades com maior qualidade do minério e, portanto, com melhor retorno.

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