Estudo dos EUA com nove gestantes levanta novas preocupações sobre o Zika
Por Julie Steenhuysen
CHICAGO (Reuters) - Um estudo com nove gestantes dos Estados Unidos que viajaram para países onde o vírus Zika circula mostra um número de infecções e danos cerebrais em fetos maior do que o esperado, disseram autoridades de saúde norte-americanas nesta sexta-feira.
Duas das mulheres perderam os bebês, duas abortaram, duas aparentemente tiveram crianças aparentemente saudáveis e uma criança nasceu com microcefalia grave, afirmou o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, o CDC.
Os médicos ainda acompanham as duas outras gestações, que, até agora, parecem avançar sem complicações, segundo o centro.
“Nós não esperávamos ver esses danos cerebrais nessa pequena série de casos de gestantes norte-americanas que viajaram”, declarou Denise Jamieson, especialista em doenças do nascimento e integrante da equipe de resposta ao Zika do CDC.
Ela afirmou que estava “maior do que nós teríamos esperado”.
O Brasil está investigando milhares de casos de bebês nascidos com má-formação craniana que, acredita-se, está associado ao Zika, um vírus transmitido por mosquito e presente na América Latina e no Caribe.
Nos nove casos dos EUA, a infecção do vírus durante a gravidez estava associada com uma série de consequências, como perda no início da gravidez, microcefalia e, aparentemente, crianças saudáveis, disse o CDC.
A análise de alguns casos mostrou que o vírus havia cruzado a placenta para atingir os fetos.
Em um dos casos, a mulher tinha viajado para uma área afetada com cinco semanas de gravidez. Testes confirmaram a infecção. A mãe perdeu a criança na oitava semana, e uma avaliação do feto detectou o Zika.
“O nosso laboratório identificou o Zika em tecidos da placenta, o que sugere que o Zika pode ter causado a perda da criança”, disse Thomas Frieden, diretor do CDC. No entanto, ele alertou que de 10 a 20 por cento das gestações terminam em aborto espontâneo, por isso não é seguro culpar o Zika.
Em outro caso, uma mulher na casa dos 30 anos viajou para uma área afetada pelo vírus com cerca de 12 semanas de gravidez. Depois que voltou, ela teve febre, dores e irritação na pele. Testes confirmaram a infecção.
Com cerca de 20 semanas de gravidez, médicos notaram que o feto não tinha o tecido que conecta as duas metades do cérebro. Havia também fluido no cérebro e evidências de que o cérebro encolheu de tamanho. O vírus foi detectado no líquido amniótico, e a mulher optou pelo aborto.
Em outro caso, uma mulher que morou no Brasil deu à luz a um bebê com microcefalia grave.
"Para mim são mais evidências de que essa associação continua a parecer cada vez mais forte”, disse Richard Beigi, presidente da Sociedade de Obstetras e Ginecologistas para Doenças Infecciosas.