Pressão sobre Dilma pode aumentar com perda de benefícios a desempregados
Por Silvio Cascione
BRASÍLIA (Reuters) - Mais de 2 milhões de brasileiros irão perder o seguro-desemprego até junho, segundo dados obtidos pela Reuters, o que ameaça corroer ainda mais o apoio à presidente Dilma Rousseff quando ela mais necessita de amparo.
Dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho mostraram uma média de 492 mil seguros-desemprego por mês vencendo de fevereiro a junho, o que irá tirar de muitas famílias uma fonte de renda crucial. O benefício é oferecido pelo período máximo de cinco meses.
O vencimento do benefício pode alimentar a frustração e dar combustível a uma onda crescente de protestos contra o governo federal, justamente no momento em que tramita na Câmara dos Deputados o pedido de abertura do processo de impeachment da presidente.
Mais de um milhão de brasileiros participaram das manifestações de rua deste mês. Entre as razões para o descontentamento está o escândalo de corrupção na Petrobras, que inibiu os investimentos na maior economia da América Latina, em meio a um quadro de recessão.
Economistas acreditam que a recessão, a pior em uma geração, irá durar até o resto do ano, elevando a taxa de desemprego para mais de 10 por cento – atualmente ela é de 9,5 por cento. O número de pessoas sem trabalho que irão perder o seguro-desemprego pode se tornar uma fonte de insatisfação ainda mais importante.
Devido à gravidade da crise, os desempregados estão passando meses à procura de trabalho em vão. Cerca de um terço dos desempregados brasileiros estão desocupados há mais de seis meses – a taxa mais alta em 10 anos, de acordo com informações oficiais.
"Há um círculo vicioso no qual a paralisia política alimenta a recessão econômica, que reforça a crise política", disse o analista da empresa de consultoria Tendências Rafael Cortez.
"GANÂNCIA DOS POLÍTICOS"
A análise de pedido de abertura do processo de impeachment contra Dilma na Câmara dos Deputados se concentra nas alegações de que ela manipulou as contas do orçamento do governo, fazendo com que parecessem estar melhores do que estavam, para se beneficiar na reeleição em 2014.
Se a Câmara aprovar a abertura de um processo, caberá ao Senado também avaliar se o pedido é procedente e julgar a presidente, que ficaria afastada do cargo durante o processo.
Como muitos desempregados, Fabio Lorusso está perdendo a paciência. O profissional de relações públicas de 30 anos foi demitido em julho passado e está morando com os pais desde que o seguro-desemprego a que tinha direito acabou em dezembro. Ele culpa o escândalo na Petrobras, no qual promotores descobriram bilhões de reais em pagamentos de propinas a políticos da base governista, pela interrupção nos investimentos.
"É a ganância dos nossos políticos – as pessoas que estão nos roubando – que está manchando nossa imagem no exterior e nos dando menos oportunidades", disse. "Deveria haver mais manifestações. Não vamos mais ficar de cabeça baixa".