Demanda de energia em queda atinge indústria de equipamentos do setor, diz Abinee
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O atual quadro de queda na demanda por energia no Brasil tem preocupado a indústria de equipamentos, principalmente de geração e distribuição, enquanto os fabricantes voltados à transmissão temem perdas com os problemas financeiros da espanhola Abengoa, que deixou dívidas elevadas com fornecedores, afirmou o diretor de uma associação do setor.
As indústrias voltadas a esses segmentos conhecidos como GTD somaram um faturamento de 16 bilhões de reais no Brasil em 2015, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), com queda real de 4 por cento ante o ano anterior.
Segundo o diretor Newton Duarte, da área de energia da Abinee, o maior temor é das fabricantes voltadas à geração hidrelétrica, que viram ritmo muito menor de contratação dessas usinas nos últimos tempos e agora, com a recessão, praticamente perderam a esperança de que saia do papel tão cedo o mega projeto de São Luiz do Tapajós, no Pará.
"A geração hídrica está vivendo praticamente de sua carteira de projetos já contratados... primeiro que você tem tido dificuldades para aprovar licenças ambientais... e o segundo fato que leva a esse hiato de usinas é o fato de termos uma economia com queda da demanda... não há necessidade de geração", afirmou Duarte.
O diretor da Abinee listou como principais fabricantes de equipamentos hidrelétricos no país a norte-americana GE, que adquiriu a área de energia da francesa Alstom, a austríaca Andritz Hydro e a alemã Voith Hydro.
Em entrevista recente à Reuters, o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, estimou que a demanda por eletricidade só voltará a crescer timidamente em 2017, o que adiará a licitação da usina do Tapajós, que ainda não tem licença ambiental prévia.
"Agora a gente está com uma sobreoferta... é uma coisa a ser discutida com calma... é preciso solucionar as questões pendentes".
Com 6 mil megawatts em capacidade, Tapajós seria a quarta maior hidrelétrica do Brasil, atrás de Itaipu, Belo Monte e Tucuruí.
Com o adiamento de projetos, a indústria espera ao menos aproveitar a desvalorização cambial de cerca de 60 por cento desde o segundo semestre de 2014 para garantir encomendas no exterior, mas a retomada das exportações não deverá ser imediata.
"Como a indústria está se adaptando nesse momento? Está indo buscar exportação... (mas) a recuperação de um mercado externo é paulatina, não é apertar um botão... e tem que ter condição de dizer que vai se manter esse câmbio no nível atual... tem que ser cauteloso", disse Duarte.
Já do lado da distribuição, onde a redução de demanda desde o ano passado resultou em excesso de energia contratada pelas concessionárias, há um receio de que prejuízos das empresas com essas sobras contratuais possam prejudicar investimentos.
Segundo Duarte, se não fosse essa sobrecontratação, a perspectiva para o segmento seria bastante positiva, uma vez que regras estabelecidas pelo governo para permitir que as distribuidoras renovassem concessões no ano passado exigem melhorias na qualidade do serviço prestado.
"Para melhorar, eles têm que fazer investimentos importantes... nesses primeiros meses do ano a indústria já percebeu um alvoroço das empresas procurando... tem uma movimentação, mas ela fica impactada à medida que as empresas temem perdas com a sobrecontratação", disse.
ABENGOA ASSUSTA
O mercado de transmissão de energia ia bem, uma vez que há diversos investimentos em curso decorrentes de licitações realizadas nos últimos anos e boas perspectivas para 2016, com o governo planejando leiloar volume recorde de novas linhas.
Mas as dificuldades financeiras da espanhola Abengoa, que tem cerca de 6 mil quilômetros em linhas em construção no Brasil, têm tirado o sono dos fornecedores.
Sem citar nomes, Duarte disse que a indústria tem cerca de 800 milhões de reais em equipamentos prontos para a empresa, que não foram entregues devido à falta de pagamento.
A Abengoa, que entrou com pedido preliminar de recuperação judicial na Espanha em novembro, paralisou todas obras no Brasil enquanto negocia com credores e tenta vender ativos para evitar a falência.
"Os equipamentos estão feitos, fabricados, embalados, esperando pra despachar e eles não pagaram... a indústria está sofrendo... isso é sério, isso pode quebrar uma indústria", alertou Duarte.
(Edição de Roberto Samora)