Lula quer participar de decisões do governo e defende desonerações para retomar crescimento
Por Caroline Stauffer
SÃO PAULO (Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que o governo precisa fazer desonerações e adotar outras medidas para que a economia possa voltar a crescer, numa aposta no potencial do mercado interno do país.
Lula, que ainda não pode assumir a Casa Civil devido a uma batalha judicial, disse em entrevista a correspondentes estrangeiros, em São Paulo, que quer participar das decisões do governo da presidente Dilma Rousseff, mesmo que seja na condição de conselheiro.
"É preciso fazer um sinal econômico que a gente vai parar de falar em corte e vai falar em investimento", disse Lula aos correspondentes. "Aqui no Brasil, quando enfrentamos a crise com muita competência em 2008, é importante lembrar que o país cresceu", acrescentou.
"Tenho convicção que posso contribuir, e que é possível em poucos meses mudar o humor desse país", disse o ex-presidente, que defendeu a concessão de crédito para os trabalhadores e para o financiamento de obras de infraestrutura, justamente em um cenário em que o governo sofre com déficits em suas contas públicas.
Lula argumentou que o país tem capacidade de endividamento e um grande volume de reservas internacionais. Ele fez, ainda, o diagnóstico de que boa parte da base social de apoio a Dilma e ao PT foi perdida com as tentativas do governo de realizar um ajuste fiscal, o que incluiu medidas de restrição ao acesso a benefícios previdenciários.
"Mesmo assim estão nas ruas contra o golpe", disse Lula ao novamente criticar aqueles que defendem o impeachment de Dilma.
"Temos que fazer um esforço muito grande para apresentar uma proposta econômica que recupere a esperança deste povo."
Lula aproveitou o encontro com os correspondentes para, mais uma vez, defender Dilma e disparou contra os apoiadores do impeachment da presidente. "Impeachment sem base legal, sem crime de responsabilidade, é golpe", disse Lula. "É muito importante não brincar com a democracia."
Dilma é alvo de pedido de abertura de processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados e que tem como base as manobras fiscais conhecidas como "pedaladas". Para os críticos do pedido de impedimento, isso não é o bastante para configurar crime de responsabilidade.
Lula acusou a oposição a Dilma de impedir que a presidente governe e a mídia de criar um clima de ódio no país, que ele comparou com a situação vivida na Venezuela.
O ex-presidente, que teve conversas interceptadas pela Polícia Federal em meio às investigações da Lava Jato e divulgadas pela Justiça, criticou o que chamou de "Big Brother" nos métodos investigativos da operação e defendeu as ações tomadas durante seu mandato, entre 2003 e 2010, para fortalecer a Polícia Federal e a liberdade de investigação.
PMDB
Na véspera da reunião do diretório nacional do PMDB que discutirá se o partido desembarca ou não do governo, Lula disse ver com "certa tristeza" a possibilidades de os peemedebistas abandonarem o governo. Para ele, no entanto, ainda é possível um acordo que mantenha a legenda, a maior da base de apoio a Dilma, alinhada ao Palácio do Planalto.
"Eu lamento... eu vejo com uma certa tristeza o PMDB abandonar o governo, ou se afastar do governo. Pelo que estou sabendo, os ministros do PMDB não saem do governo. Nem a Dilma quer que eles saiam", disse.
"Eu acho que vai acontecer o que aconteceu em 2013. O governo vai construir um base com o PMDB, e vamos ter uma espécie de acordo sem concordância da direção. Não sei se é possível, mas acho que é possível", analisou.
Investigado pela Lava Jato, que apura um bilionário esquema de corrupção na Petrobras
O ex-presidente é investigado por suspeitas envolvendo imóveis com ligações com empreiteiras que estão na mira da Lava Jato. O ex-presidente rejeita as acusações e nega irregularidades.
Lula tomou posse como ministro-chefe da Casa Civil no dia 17, mas até agora não conseguiu assumir em meio a uma enxurrada de ações espalhadas por diversos tribunais do país.
No Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes concedeu liminar suspendendo a posse um dia depois da cerimônia no Palácio do Planalto. O governo e a defesa de Lula recorreram. A questão ainda tem que ser analisada pelo plenário do Supremo.