BC vê menor avanço do crédito no Brasil em 2016; bancos públicos puxam expansão
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central piorou sua projeção para o mercado de crédito no Brasil em 2016 para alta de apenas 5 por cento, sobre 7 por cento anteriormente, expansão que continuará sendo puxada pelos bancos públicos, embora com menor apetite.
Se confirmado, este deverá ser o pior desempenho anual registrado pelo país desde o início da série histórica do BC, em março de 2007, reflexo da economia em recessão, com bancos mais seletivos e consumidores mais apertados.
No ano passado, o estoque de crédito já tinha registrado crescimento modesto, de 6,6 por cento, bem abaixo da inflação de 10,67 por cento no período.
Nesta terça-feira, o BC reduziu suas expectativas para o crédito no ano em todas as frentes. Estimou que o avanço do saldo de financiamentos pelas instituições públicas deverá ser 8 por cento no ano, contra 9 por cento anteriormente.
Já os estoques dos bancos privados nacionais deverão encolher 1 por cento. Antes, a expectativa era de avanço de 2 por cento, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
A perspectiva de crescimento no ano para o crédito livre passou a 2 por cento, e a do crédito direcionado para 7 por cento, contra estimativas anteriores de 5 e 9 por cento, respectivamente.
Em fevereiro, o estoque total de crédito no país recuou 0,5 por cento, a 3,184 trilhões de reais. Com isso, passou a responder por 53,6 por cento do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o BC, o saldo deve fechar o ano a 54 por cento do PIB, ante 54,5 por cento em 2015.
INADIMPLÊNCIA
No mês passado, ainda segundo o BC, a inadimplência no mercado de crédito no Brasil no segmento de recursos livres manteve-se em 5,5 por cento, patamar mais alto da série iniciada em março de 2011.
O calote vem subindo diante da crescente pressão sobre o orçamento de famílias e empresas, na esteira da derrocada da economia, inflação e juros elevados, além de forte deterioração do mercado de trabalho.
Refletindo a preocupação dos bancos com o aumento de empréstimos não quitados, o provisionamento feito pelas instituições financeiras públicas subiu de 4,3 por cento em janeiro para 4,4 por cento em fevereiro, em dados preliminares.
Nos bancos estrangeiros, o percentual também avançou, passando de 6,2 para 6,4 por cento. Manteve-se estável apenas nas instituições financeiras privadas nacionais, em 8,6 por cento.
Em fevereiro, os juros médios do segmento de recursos livres cresceram a 50,6 por cento ao ano, contra 49,6 por cento em janeiro, recorde histórico da série.
Ao mesmo tempo, o spread bancário --diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos ao consumidor final-- subiu a 35,8 pontos percentuais no segmento no mês, ante 34,3 pontos em janeiro.
(Por Marcela Ayres)