Obama diz que jornalistas são parcialmente culpados por tom da disputa presidencial
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Nicholas Kamm/AFP
O presidente dos EUA, Barack Obama, faz discurso durante premiação de jornalismo político em Washington D.C.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, colocou parte da culpa pelo tom da atual campanha presidencial do país em um jornalismo político que vem sendo limitado por orçamentos cada vez menores nas redações e barateado pelo foco em retuítes e números de curtidas nas redes sociais.
Em um discurso feito durante um jantar de prêmios jornalísticos na segunda-feira, Obama exortou os profissionais da área a fazerem perguntas mais difíceis aos pré-candidatos que almejam a presidência. Ele expressou consternação com a retórica vulgar, a violência nos comícios e as promessas de campanha fantasiosas que vêm rendendo manchetes continuamente --uma referência velada a Donald Trump, pré-candidato republicano favorito nas pesquisas.
"A pergunta número um que estou ouvindo quando viajo pelo mundo ou falo com líderes mundiais neste momento é 'o que está acontecendo na América?' no que diz respeito à nossa política", afirmou Obama, descrevendo o alarme internacional com a dúvida sobre a continuidade do funcionamento eficaz do país.
"Não é porque pessoas de todo o mundo nunca viram uma política louca. É que elas entendem que a América é o lugar onde você não pode se dar ao luxo de ter uma política louca", disse.
"Quando nossas autoridades eleitas e nossas campanhas políticas se tornam inteiramente desenfreadas diante da razão e dos fatos e das análises, quando não importa o que é verdade e o que não é, isso torna praticamente impossível para nós tomar boas decisões em nome das gerações futuras", afirmou Obama.
Ele disse que o panorama midiático mudou desde sua primeira campanha presidencial em 2008, quando "havia um preço se você dissesse uma coisa e depois fizesse algo completamente diferente".
"A questão é: no ambiente midiático atual, isso ainda é verdade? Isso ainda vale?", indagou.
Obama disse que as organizações de mídia têm a responsabilidade de ir mais fundo, apesar do ritmo mais veloz "desta era do smartphone" e das pressões financeiras maiores sobre o jornalismo como negócio.
Os eleitores "seriam mais bem servidos se bilhões de dólares de mídia gratuita tivessem uma responsabilização séria, especialmente quando políticos divulgam planos impraticáveis e fazem promessas que não podem manter", disse Obama.
No início deste mês, o jornal "New York Times" relatou que até agora Trump obteve o equivalente a quase US$ 1,9 bilhão em cobertura midiática --Ted Cruz, seu rival mais próximo e senador do Texas, obteve US$ 313 milhões, e a pré-candidata democrata Hillary Clinton outros US$ 746 milhões.