PMDB oficializa rompimento com governo e aumenta pressão sobre Dilma
Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer que conta com as maiores bancadas na Câmara e no Senado, anunciou nesta terça-feira que deixará o governo, em uma decisão que aumenta o risco aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff e pode desencadear uma debandada de outros integrantes da base.
O desembarque do PMDB da nau governista é o mais duro revés já sofrido por Dilma em seus quase cinco anos e meio na Presidência. A petista é alvo de pedido de abertura de processo de impeachment que já tramita em comissão especial na Câmara dos Deputados e enfrenta uma das piores recessões econômicas em décadas, além de baixos níveis de popularidade.
"A moção está aprovada. A partir de hoje, nessa reunião histórica para o PMDB, o PMDB se retira da base do governo da presidenta Dilma Rousseff. E ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal em nome do partido PMDB", disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que presidiu reunião do diretório nacional do partido em Brasília.
Decidido em meio a palmas, gritos de “Fora PT” e “Temer presidente”, o desembarque pode disparar um efeito dominó em outras legendas aliadas, enfranquecendo ainda mais o governo.
O partido decidiu entregar todos os cargos no governo federal e realizar processo no conselho de ética da legenda contra os filiados que não deixarem seus postos no governo. Além do vice-presidente da República, integram o governo pelo PMDB mais seis ministros --na segunda-feira, o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves foi o primeiro peemedebista a deixar o ministério de Dilma ao pedir demissão do comando da pasta do Turismo.
A relação da presidente com o PMDB tem sido difícil desde o seu primeiro mandato. Apesar de ser o partido do vice e o que chegou a contar com segundo maior número de ministros, atrás apenas do PT, os peemedebistas sempre expressaram ressentimento pela falta de participação no governo.
CÁLCULO
A decisão do PMDB nesta terça-feira, definida em menos de 4 minutos por aclamação, reflete a maioria, mas não a totalidade do partido.
Embora tenham assinado presença mais de 100 integrantes da sigla, peemedebistas mais identificados com o governo não compareceram à reunião, caso do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), do presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (AL) –que nega alinhamento ao Planalto e tenta construir uma postura institucional– e parte da bancada liderada pelo senador Eunício Oliveira (CE).
Para a oposição e os que defendem o impeachment da presidente Dilma, a decisão do PMDB consolida o processo. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), avaliou que o desembarque do PMDB é o “início do fim” do governo. Para o senador Aécio Neves (PSDB-MG), presidente nacional do partido, a saída do PMDB “fecha a tampa de um caixão de um governo moribundo”.
Governistas já esperavam o desembarque e avaliavam, ainda na segunda-feira, que a ruptura não teria grande impacto numérico nos votos que calcula ter no PMDB para barrar o impeachment, centrando o foco de suas negociações em siglas como o PP e o PR. A decisão pela ruptura com o governo, aliás, foi informada por Temer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na segunda-feira.
Caso a Câmara aprove a abertura de um processo de impedimento contra a presidente e se essa decisão for confirmada pelo Senado, com a instauração do processo Dilma terá de se afastar do cargo e Temer assumirá a Presidência interinamente. Se o Senado decidir cassar o mandato da petista, o vice será efetivado no cargo.
O Palácio do Planalto já contabiliza a perda de apoio do PMDB na base e definiu como estratégia a tentativa de obter apoios individuais contra o impeachment, segundo duas fontes. A ideia é negociar com as alas do partido que ainda apoiam o governo, e deixar claro quem é aliado e quem está contra, em clima de guerra contra Temer e seu grupo.
Segundo o ex-ministro da Aviação Civil e segundo-vice-presidente da sigla, Eliseu Padilha, a relação entre Dilma e Temer será institucional “como sempre foi”.
Em ataque declarado ao antigo aliado, o líder do PT na Câmara, deputado Afonso Florence (BA), acusou o que considera um “golpe em curso” e referiu-se a Temer como uma pessoa que “posava de jurista e agora é golpista”.
(Com reportagem de Leonardo Goy e Lisandra Paraguassu)