Com mercado de crédito estagnado, Serasa Experian explora novas frentes no Brasil

Por Aluísio Alves

SÃO PAULO (Reuters) - A empresa de análise de dados de crédito Serasa Experian está intensificando esforços para diversificar suas fontes de receita no Brasil, na esteira da estagnação dos empréstimos e da demora para deslanchar o Cadastro Positivo, sua maior aposta nos últimos anos.

A partir de seu laboratório em São Carlos (SP), a companhia está usando tecnologia de análise de grandes volumes de dados para municiar campanhas de mídia dirigida de grandes empresas, prevenção de desastres como enchentes para seguradoras e soluções de infraestrutura urbana.

"A Serasa foi durante muito tempo monopolista e não precisava se preocupar com inovação", disse à Reuters o presidente da companhia, José Luiz Rossi. "Agora estamos tendo que nos reinventar."

Comprada pela britânica Experian em 2007, no meio de um ciclo histórico de expansão do crédito no Brasil, a então Serasa era controlada por grandes bancos brasileiros e especializada em ferramentas de análise de empréstimos, segmento do qual ainda é a líder na América Latina.

Nos últimos anos, porém, a contínua desaceleração dos financiamentos no país, a frustração com o Cadastro Positivo e, mais recentemente, a forte desvalorização do real, tem pesado nos resultados da companhia.

No trimestre fechado em dezembro último, a receita da companhia na América Latina (a empresa não detalha números do Brasil), caiu 29 por cento sobre um ano antes, em dólares, devido sobretudo à desvalorização cambial.

Simultaneamente, o Cadastro Positivo, regulamentado no país em 2013 e que permite que tomadores de financiamento com bom histórico de adimplência tomem crédito a custos menores, não deslanchou, contrariando previsões da indústria financeira de que o sistema seria o principal motor para uma nova fase de expansão dos empréstimos nos país.

A Serasa Experian, que opera o sistema do cadastro positivo em parceria com a rival Boa Vista Serviços, tem pouco mais de 3 milhões de consumidores que pediram inclusão no sistema. Para efeito comparativo, o Brasil tem mais de 100 milhões de correntistas.

De acordo com Rossi, o modelo usado aqui, que depende de adesão espontânea do correntista, ao contrário do que acontece em outros países, é um dos fatores que limita a expansão do serviço. Com a expansão mais lenta da base de dados, o desenho de modelos de riscos de crédito também demora.

"Mas acho que isso vai mudar porque o sistema financeiro não pode ficar vários anos com o crédito parado", disse Rossi. "Após atingir um determinado tamanho, vira uma bola de neve."

Segundo o executivo, a Serasa Experian já sabia que os grandes bancos se preparavam para ter uma central própria de dados de crédito e não teme competição. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou em janeiro a criação de uma central de crédito formada pelos bancos sócios da entidade.

REDES SOCIAIS E ENCHENTES

Mas prevendo que o mercado de crédito ainda levará algum tempo para voltar a ganhar tração, a previsão é que o crescimento das receitas da Serasa Experian sejam lideradas por "áreas não tradicionais".

Entre as iniciativas mais recentes desenvolvidas com apoio de seu laboratório, inaugurado há nove meses, está uma parceira com o Facebook para vender ferramentas de mídia dirigida a grandes anunciantes, trabalho que já fez para companhias como Santander Brasil e Ambev.

O laboratório de dados da Serasa Experian, que vai receber investimento de 25 milhões de reais em 5 anos, é o terceiro da companhia no mundo, ao lado de unidades semelhantes na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.

Algumas bases de dados também têm sido desenvolvidas para identificar padrões de comportamento de públicos, tanto geograficamente quanto nas redes sociais.

Um ramo dessa iniciativa é o projeto Pólis, que monitora fluxos de pessoas, atividade comercial e mede probabilidade de ocorrência de desastres naturais, como enchentes.

"Esses dados podem ser aproveitados por órgãos governamentais e para a indústria de seguros", por exemplo, disse Rossi.

Em paralelo, a empresa estuda possibilidades de crescimento não-orgânico no país, de onde são lideradas as operações na América Latina, incluindo Colômbia, Peru, Venezuela e Argentina. No Brasil a companhia tem cerca de 2,5 mil funcionários.

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