Ministros do PMDB contrariam partido e decidem permanecer no governo após rompimento
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Seis ministros do PMDB continuarão nos cargos por ora, contrariando a decisão do partido de romper com o governo da presidente Dilma Rousseff e de exigir a entrega imediata de todos os cargos na administração federal.
A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, afirmou nesta quarta-feira em sua conta no Twitter que seguirá no cargo e no PMDB. "Continuaremos no governo e no PMDB", escreveu a ministra, sem dar detalhes se estava se referindo a ela e aos outros cinco peemedebistas que ocupam ministérios.
Duas fontes ministeriais disseram à Reuters, nesta tarde, que os seis ministros peemedebistas acertaram que agirão em conjunto e que nenhum deles deixará o governo por decisão individual.
Os ministros Eduardo Braga (Minas e Energia), Marcelo Castro (Saúde), Mauro Lopes (Aviação Civil), Helder Barbalho (Portos) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), além da titular da Agricultura, continuam na base do governo, seja nos ministérios ou no Congresso para os que têm mandato, disse uma das fontes, sob condição de anonimato.
Essa mesma fonte afirmou que o licenciamento dos seis ministros do PMDB da legenda é uma opção, mas que isso ainda não está definido porque o partido não deu prazo para isso.
Segundo uma fonte ligada ao comando do PMDB, uma eventual, desobediência dos ministros poderia levar a punições, como suspensão ou até desfiliação, mas isso aconteceria dentro de um longo processo na comissão de ética do partido, que se estenderia para além dos limites da fase aguda da atual crise política.
Levando em conta os recursos e todos as etapas de um processo como esse, uma eventual punição poderia demorar até um ano e meio para ocorrer, disse essa fonte. Durante esse período, enquanto o processo tramitasse, eles continuariam filiados ao partido.
Em reunião do diretório nacional do PMDB que durou menos de quatro minutos, o partido do vice-presidente Michel Temer decidiu na terça-feira por aclamação pelo desembarque do governo, aumentando o risco de aprovação do impeachment de Dilma e com potencial de desencadear uma debandada de outros integrantes da base.
Por ser o partido com as maiores bancadas na Câmara e no Senado, a saída do PMDB da nau governista foi considerada o mais duro revés já sofrido por Dilma em seus quase cinco anos e meio na Presidência.
A petista é alvo de pedido de abertura de processo de impeachment que já tramita em comissão especial na Câmara dos Deputados e enfrenta uma das piores recessões econômicas em décadas, além de baixos níveis de popularidade.
O PMDB decidiu entregar todos os cargos no governo federal e realizar processo no conselho de ética da legenda contra os filiados que não deixarem seus postos no governo.
Na segunda-feira, antes mesmo de o partido oficializar o rompimento com o governo, o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves deixou o ministério de Dilma ao pedir demissão do comando da pasta do Turismo.
CARGOS À DISPOSIÇÃO
Também no Twitter, a ministra da Agricultura disse que "deixamos a presidente à vontade caso ela necessite de espaço para recompor sua base".
Após o anúncio do desembarque do PMDB, o ministro da chefia de gabinete da Presidência, Jaques Wagner, afirmou que o governo aproveitaria para repactuar até sexta-feira a relação com os partidos que restam na base aliada, redistribuindo os cargos que pertenciam a peemedebistas.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello e Leonardo Goy, em Brasília; Edição de Cesar Bianconi e Maria Pia Palermo)