Dólar fecha março com maior queda mensal em 13 anos e vai abaixo de R$3,60, com política

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em queda nesta quinta-feira, abaixo de 3,60 reais e marcou o maior recuo mensal em treze anos, embalado por crescentes apostas no impeachment da presidente Dilma Rousseff e em meio à nova atuação do Banco Central no mercado, fatores que devem continuar ditando a direção do câmbio daqui para frente.

O dólar recuou 0,68 por cento, a 3,5963 reais na venda nesta sessão, após o BC novamente vender uma fatia pequena dos swaps cambiais reversos ofertados em leilão.

A moeda norte-americana acumulou queda de 10,17 por cento em março, maior tombo desde abril de 2003, quando recuou mais de 13 por cento. No primeiro trimestre, a baixa ficou em 8,91 por cento.

"Os próximos dois meses serão fatídicos para o desempenho do dólar, com as votações do impeachment. Além disso, (o movimento do câmbio) depende de como o BC vai reagir. São duas incógnitas muito importantes", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.

Ele referiu-se às votações do pedido de impeachment contra Dilma que possivelmente podem acontecer nas próximas semanas na comissão do impeachment na Câmara dos Deputados, no plenário da casa e no Senado.

Muitos operadores apostam que eventual troca de governo poderia ajudar a resgatar a confiança no país, mas alguns ponderam que a instabilidade política tende a trazer mais volatilidade.

Segundo economistas consultados em pesquisa da Reuters em meados de março, o dólar pode cair a 3,50 reais se Dilma deixar a Presidência ou, caso contrário, disparar ao recorde de 4,25 reais.

Nesta sessão, o foco recaiu sobre os esforços do governo para se defender. Em sessão da comissão do impeachment, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, defendeu que o governo não violou a lei orçamentária e que, portanto, não há crime de responsabilidade que justifique o pedido de impedimento.

O BC reagiu ao alívio recente do dólar voltando a atuar por meio de swaps cambiais reversos, que equivalem a compra futura de dólares, ferramenta que não utilizava há três anos. No entanto, a decisão de vender menos de metade da oferta nos leilões das últimas duas sessões aumentou as dúvidas nas mesas de operação e contribuiu para trazer as cotações para baixo.

"Parece que o BC quer desacelerar a queda do dólar, mas não a qualquer custo", resumiu o operador da corretora Intercam Glauber Romano.

O BC vendeu nesta manhã apenas 2,9 mil swaps reversos em leilão de até 17 mil contratos. Na oferta de até 20 mil contratos conduzida no pregão passado, vendeu apenas 3 mil contratos.

Alguns operadores acreditam que o BC teria como objetivo evitar cotações muito baixas do dólar para proteger as exportações em um momento de recessão econômica. Discutia-se entre os operadores também a possibilidade de a autoridade monetária ter em vista o nível de 3,60 reais como um piso, mas essa interpretação perdeu um pouco de força nesta sessão.

Outro foco de perguntas nas mesas é a rolagem dos contratos de swap tradicional, que atuam na ponta oposta do reverso, como venda futura de dólares.

O BC continuou rolando os swaps tradicionais durante boa parte do mês, mesmo após retomar os swaps reversos, mas deixou alguns expirarem. Após promover sete rolagens integrais consecutivas, recolocou apenas cerca de 67 por cento do lote de abril. Agora, investidores questionam-se sobre qual será a estratégia para o lote de maio, equivalente a 10,385 bilhões de dólares.

O dólar chegou a recuar a 3,5323 reais na mínima deste pregão, influenciado pela briga pela formação da Ptax de março. Operadores costumam disputar para influenciar a taxa, que serve de referência para diversos contratos cambiais, nos últimos pregões de cada mês, especialmente em fins de trimestre.

A Ptax fechou a 3,5583 reais para compra e 3,5589 reais para venda. Após a divulgação da taxa, o dólar reduziu as perdas e passou a operar perto dos 3,60 reais.

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