Impeachment é tentativa de dar "colorido democrático" a golpe, diz Dilma

BRASÍLIA (Reuters) - O Palácio do Planalto deu continuidade nesta quinta-feira à estratégia de chamar grupos contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff com um ato em que reuniu intelectuais e artistas, e a presidente afirmou que grupos favoráveis ao seu impedimento tentam “dar um colorido democrático” ao golpe porque não há base legal para o processo.

Em um tom mais ameno do que nos discursos anteriores, a presidente criticou o processo de impeachment, mas afirmou também que é preciso voltar a unir o país.

"Temos que lutar para superar esse momento para voltar a crescer e criar na nossa sociedade um lima de união”, disse a presidente.

Dilma, no entanto, acrescentou que não adianta alguns setores falarem em unir o país – um discurso que tem sido usado pelo PMDB para um possível governo do vice-presidente Michel Temer. “Não se une o país destilando ódio, rancor, raiva e perseguição”, disse.

Em uma fala longa, de quase 40 minutos, a presidente afirmou para uma plateia de cerca de 500 pessoas que o país está voltando aos poucos a ter bons indicadores econômicos, com superávit na balança comercial e uma inflação mais controlada, mas que é necessário estabilidade política para o Brasil crescer.

“Sem estabilidade política é como se a gente se esforçasse e as coisas não andassem. Precisamos de estabilidade política. Precisamos do fim do ódio para que esse país não sofra consequências de uma ruptura”, afirmou a presidente.

Dilma voltou a dizer que, apesar do impeachment ser uma previsão constitucional, no seu caso não há crime de responsabilidade, não há motivo. “Para cada momento histórico o golpe assume uma cara. Nos processos que a América Latina passou nos anos 1960, 1970 e 1980, a forma tradicional era a intervenção militar", disse.

"Agora a forma está sendo a ocultação do golpe através de processos aparentemente democráticos. Se usa um pedaço da democracia. Estão tentando dar um colorido democrático a um golpe porque não tem base legal”, afirmou.

No grupo que se reuniu com Dilma antes da cerimônia, estavam a cantora Beth Carvalho, a atriz Letícia Sabatella, o escritor Raduan Nassar, entre outros. Vídeos foram enviados pelo neurocientista Miguel Nicolelis, a economista Maria da Conceição Tavares, o cantor Tico Santa Cruz e o ator norte-americano Danny Glover.

“Estou aqui para passar uma mensagem de solidariedade aos milhares de brasileiros que estão lutando por sua democracia. Vocês não estão sozinhos. Nós estamos com vocês e nós também declaramos: Não vai ter golpe”, disse o ator.

Conhecida por ser uma contumaz crítica do governo, Letícia Sabatella reconheceu que é oposição ao governo Dilma, mas se disse contente em poder dizer isso na sua frente e viver em um país onde se preserva as liberdades democráticas.

“O que estamos vivendo hoje, esse ódio instaurado, fomentado por um plano maquiávelico de tomada de poder na marra. É muito assustador saber que o motivo que usam não é pelo erro, é pelo acerto”, disse a atriz.

Doze pessoas discursaram no evento, de Raduan Nassar ao compositor Flávio Renegado. “Não somos poucos, estamos nas ruas, e vamos lutar até o final para garantir que a democracia no Brasil vença”, disse em vídeo o músico Tico Santa Cruz.

Foram entregues à presidente 20 manifestos contra o impeachment, de grupos de escritores, artistas de teatro, do grupo Tortura Nunca Mais, médicos, professores, psicólogos, entre outros.

O ato é o segundo organizado pelo Planalto. Na semana passada, foi a vez de juristas, advogados e defensores públicos, que pediram um encontro inicialmente privado, e depois transformado em uma cerimônia aberta que durou mais de três horas. Com os artistas, o encontro foi de cerca de uma hora e meia.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu)

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