Segurança da Olimpíada está garantida apesar de "turbulência política", diz secretário
Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - As recentes mudanças em cargos-chave do governo federal ligados à Olimpíada do Rio de Janeiro podem gerar desconfiança internacional sobre a organização do evento, mas não há razão para preocupação com o esquema de segurança, disse nesta quinta-feira o responsável pela segurança pública nos Jogos, ao comentar a troca no comando da Força Nacional.
Em meio à tramitação de um processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso, o coronel Adilson Moreira deixou nesta semana o comando da Força Nacional, que será responsável por parte da segurança da Olimpíada, fazendo críticas ao governo e a Dilma em um email enviado a subordinados.
Apesar dos impactos negativos da crise política a cerca de quatro meses do início do Jogos Olímpicos, agravada por um quadro de recessão econômica, o responsável por comandar o plano de segurança pública dos Jogos garantiu a realização tranquila do evento.
“Toda essa instabilidade e turbulência política e dificuldades econômicas óbvio que não é bom e geram uma desconfiança no processo como um todo, mas as pessoas precisam saber que a operação de segurança envolve mais de 80 mil homens“, disse à Reuters Andrei Rodrigues, secretário de Segurança para Grandes Eventos do Ministério da Justiça, em entrevista por telefone.
“Não há razão, apesar de a turbulência ser ruim, para se preocupar com a segurança... As instituições são maiores do que as pessoas”, acrescentou.
A exoneração de Moreira do comando da Força Nacional foi publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União, que também trouxe a nomeação de Marcello Barros de Oliveira como substituto.
O Ministério da Justiça, ao qual a Força Nacional está subordinada, instaurou um inquérito administrativo para apurar a conduta do coronel e submeteu o assunto à comissão de ética da Presidência, uma vez que houve citação a Dilma, e também solicitou à Advocacia-Geral da União que verifique eventuais medidas judiciais.
Além da mudança no comando da Força Nacional, o governo, que contabiliza apoios para tentar barrar o processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados, confirmou na quarta-feira a troca do ministro do Esporte, substituindo George Hilton por Ricardo Leyser como resultado de uma disputa envolvendo o antigo partido do ex-ministro, o PRB. [nL2N17223V]
O secretário reconheceu que as mudanças ligadas diretamente à organização dos Jogos "não são boas", mas disse que o planejamento de segurança está mantido "e não vai haver mudança de rumo".
PROTESTOS
A Força Nacional de Segurança prevê o emprego de cerca de 9.600 homens na Olimpíada e será responsável por atuar em arenas e instalações olímpicas com cerca de 6 mil homens. Os demais formarão uma força de contingência que atuará em parceria com os agentes de segurança locais do Rio de Janeiro.
A segurança sempre foi uma das maiores preocupações do Comitê Olímpico Internacional (COI) em relação aos Jogos do Rio.
A cidade foi escolhida em 2009 como sede dos Jogos em parte por ter convencido os dirigente do COI da eficácia do programa de ocupação de favelas pela polícia, as chamadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que reduziram os índices de criminalidade. As UPPs, no entanto, passaram a ser questionadas nos últimos anos devido a um retorno da criminalidade, ainda que em menor escala.
O valor total de investimento em segurança nos Jogos ainda não foi apresentado. Até o momento, o custo divulgado é de 930 milhões de reais, sendo 350 milhões de reais do Ministério da Justiça e 580 milhões de reais por parte do Ministério da Defesa. Há ainda recursos investidos em equipamentos para a Copa de 2014 que também serão utilizados nos Jogos.
“Esse é o maior esquema de segurança da história do país”, disse Rodrigues à Reuters.
O cenário político conturbado também se tornou um ingrediente a ser monitorado pelas forças de segurança nos Jogos Olímpicos devido ao risco de protestos violentos.
O atual quadro levou milhões de pessoas a protestar em várias cidades do país contra o governo neste mês, e também houve protestos, em menor escala, de manifestantes favoráveis ao governo.
Segundo o secretário, não vai haver tolerância com eventuais protestos violentos durante os Jogos.
“Não vamos tolerar a ocorrência de crimes em manifestações", afirmou. “É claro que em um cenário de instabilidade sempre tem possibilidade de os ânimos se acirrarem ainda mais num período de campanha e de eleições em seguida. Estamos atentos e acompanhando”, afirmou.
(Com reportagem adicional de Pedro Fonseca)