Chineses compram fatia na trading e processadora de grãos Fiagril

Por Tatiana Bautzer e Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - A companhia chinesa Hunan Dakang e sua controladora Pengxin fecharam acordo para comprar fatia na trading e processadora de grãos brasileira Fiagril, numa nova ofensiva de empresas da China no setor de commodities agrícolas para assegurar a oferta futura ao gigante asiático.

Como consequência desse acordo, os acionistas da nova empresa serão a Hunan, os acionistas fundadores da Fiagril Participações S.A. e a Amerra Capital Management, segundo comunicado divulgado pela empresa brasileira com sede em Mato Grosso nesta sexta-feira.

A empresa, que está entre os maiores grupos brasileiros do setor de trading e processamento de grãos, um mercado amplamente dominado por multinacionais como Cargill e Bunge, não divulgou a participação negociada nem os valores envolvidos.

Uma fonte com conhecimento das negociação disse à Reuters que os chineses ficaram com cerca de 57 por cento da companhia.

Ao mesmo tempo em que o acordo amplia a capacidade de crescimento da Fiagril, nas palavras do presidente do Conselho da empresa, Marino Franz, também marca o avanço dos chineses no mercado de negociação de soja e milho do maior Estado produtor de grãos do Brasil, o Mato Grosso, onde a Fiagril concentra suas operações.

A Fiagril atua desde a originaçāo de grāos, distribuição de insumos agrícolas e a produção de biodiesel. A empresa atua na região da BR-163, principal área de produção agrícola do país, onde desenvolveu uma rede de relacionamento que envolve mais de 2 mil produtores e possui uma capacidade de armazenamento de grāos de aproximadamente 1 milhão de toneladas. A empresa ainda tem filiais no Amapá e Tocantins.

A Fiagril Participações afirmou ainda que, "neste momento", mantém a sua posição nas empresas coligadas como a Cianport (logística), Serra Bonita Sementes, F&S Agrisolution (para produção de etanol de milho) e Bioplanta (fertilizantes).

INVESTIMENTOS

Os aportes dos chineses, que deverão incluir investimentos em unidades de esmagamento de soja, permitirão uma maior agregação de valor da oleaginosa em Mato Grosso, disse uma segunda fonte à Reuters, que pediu para ficar no anonimato porque não tem autorização para falar sobre o assunto.

"É investimento chegando em área com agregação de valor, é uma coisa que faz muito sentido. É uma nova empresa entrando com força no mercado", disse esta fonte, que participou das conversas entre a Pengxin e a Fiagril.

A fonte disse também que o grupo chinês entrou no negócio de trading e processamento da Fiagril, mas a gestão da empresa ficará com os brasileiros.

PRESENÇA CHINESA

A aquisição deve representar mais um passo nos esforços recentes por comerciantes chineses para obter uma maior atuação no mercado de grãos de exportação do Brasil, o maior exportador global de soja e o segundo em milho.

A transação vem com o Brasil no meio da colheita de uma safra recorde.

Cheias de dinheiro, empresas chinesas como a gigante estatal Cofco estão agressivamente avançando no mercado do seus rivais ocidentais maiores.

Transações recentes incluem a compra pela Cofco de participações de controle na trading holandesa Nidera e da unidade de agronegócio do Noble Group, que deu acesso à empresa chinesa a usinas de açúcar e plataformas de produção de grãos no Brasil e Argentina.

Tais acordos ocorrem ainda em momento em que as maiores negociadoras de grãos do mundo --Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus-- perderam seu centenário domínio do mercado de exportações de grãos do Brasil para rivais asiáticos, segundo dados compilados pela Reuters.

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