Ex-guarda de Auschwitz pede desculpas em julgamento e diz ter vivido "pesadelo"
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Bernd Thissen/Reuters
Reinhold Hanning, 94, chega ao tribunal para seu julgamento em fevereiro
Um ex-guarda de Auschwitz, atualmente com 94 anos e sob julgamento na Alemanha, pediu desculpas às vítimas no tribunal nesta sexta-feira, dizendo-lhes que se arrepende de ter sido parte de uma "organização criminosa" que matou tantas pessoas e causou tamanho sofrimento.
"Tenho vergonha por ter deixado uma injustiça acontecer conscientemente e por não ter feito nada para me opor a ela", disse Reinhold Hanning, ex-oficial do esquadrão de defesa nazista SS, sentado em uma cadeira de rodas na corte de Detmold.
Hanning é acusado de cumplicidade no assassinato de pelo menos 170 mil pessoas.
Sobreviventes do Holocausto, que detalharam as experiências horríveis no julgamento iniciado em fevereiro, haviam clamado para que o acusado rompesse o silêncio no que pode ser um dos últimos casos sobre a chacina deliberada de judeus nos tribunais alemães.
Hanning finalmente o fez depois de 12 audiências, cada uma limitada a duas horas devido à sua idade avançada.
Lendo com voz firme um pedaço de papel que tirou do bolso de seu terno cinza, ele disse: "Quero dizer a vocês que lamento profundamente ter sido parte de uma organização criminosa que é responsável pela morte de muitas pessoas inocentes, pela destruição de incontáveis famílias, pela infelicidade, pelo tormento e sofrimento por parte das vítimas e seus parentes".
"Fiquei em silêncio durante muito tempo, fiquei em silêncio durante toda a minha vida", acrescentou.
Pouco antes, seu advogado, Johannes Salmen, havia feito um relato detalhado da visão do réu a respeito de sua vida e particularmente de seu tempo em Auschwitz.
Em sua declaração de 22 páginas, Hanning admitiu saber dos assassinatos em massa no campo de extermínio instalado na Polônia ocupada.
"Tentei reprimir este período durante minha vida toda. Auschwitz foi um pesadelo, gostaria de nunca ter estado lá", teria dito Hanning, segundo seu advogado.
Leon Schwarzbaum, sobrevivente do Holocausto de 95 anos, afirmou: "Eu aceito suas desculpas, mas não consigo perdoá-lo".