Dólar anula queda e passa a ter leve alta ante real com preocupações políticas
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar anulou a queda e passou a ter leve alta frente ao real nesta terça-feira, em meio a avaliações de que o governo deve enfrentar dificuldades para aprovar no Congresso Nacional as medidas para reequilibrar as contas públicas apresentadas nesta manhã e a nova meta fiscal.
Às 15:36, o dólar avançava 0,04 por cento, a 3,5837 reais na venda, depois de saltar 1,82 por cento na sessão passada. A moeda norte-americana atingiu 3,5423 reais na mínima do dia e 3,5896 reais na máxima.
O dólar futuro avançava cerca de 0,25 por cento.
"Está ficando claro que o governo não tem uma força tão grande no Congresso, especialmente depois da saída do Jucá. Pode ser que fique preso na mesma armadilha em que caiu o governo anterior, tendo que lutar por apoio", disse o operador de um importante banco nacional, referindo-se ao ex-ministro do Planejamento Romero Jucá.
O gatilho para o movimento veio com o cancelamento das sessões da Comissão Mista de Orçamento (CMO) marcada para esta terça-feira que avaliariam a meta fiscal para este ano. A reunião fora marcada originalmente para segunda-feira, mas foi cancelada por falta de quórum.
Isso não impede que o plenário do Congresso analise o tema, possivelmente ainda nesta terça-feira, mas muitos operadores entenderam a suspensão como evidência de que o cenário político continua incerto.
O governo está pedindo ao Congresso autorização para marcar déficit primário de 170,5 bilhões de reais neste ano. Trata-se do primeiro grande teste do governo interino de Michel Temer no Legislativo.
"O mercado está trabalhando com o cenário de que a meta passa. Um cenário diferente --atrasos na aprovação, autorização para gastos adicionais-- pode gerar algum nervosismo", disse pela manhã o especialista em câmbio da corretora Icap, Ítalo Abucater.
A percepção de fragilidade do governo no Congresso também enfraqueceu o otimismo cauteloso visto mais cedo em relação às novas medidas econômicas.
O governo anunciou duas medidas econômicas com efeito imediato, envolvendo o BNDES e o Fundo Soberano e que somam cerca de 42 bilhões de reais neste ano, e outra que depende do aval do Congresso para limitar despesas primárias, incluindo desembolsos com saúde e educação.
"Na minha opinião, (as medidas) passam no Congresso, mas vai ter muita briga", disse o operador da corretora Spinelli, José Carlos Amado.
Segundo três operadores de corretoras e de um grande banco internacional, o anúncio animou investidores locais, mas não foi suficiente para levar estrangeiros a comprar ativos brasileiros.
Outro fator que contribuiu para a queda do dólar na primeira metade da sessão foi a saída de Jucá. A manobra foi inicialmente considerada por uma reação rápida do governo a sua primeira crise, mas essa interpretação perdeu força ao longo do dia conforme operadores passaram a avaliar as consequências de sua saída para a posição do governo no Congresso.
Na véspera, foi divulgado áudio de conversa de Jucá com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado pela qual o ex-ministro teria sugerido que uma troca de governo resultaria em pacto para frear o avanço da Operação Lava Jato. Ambos os interlocutores são investigados.
Jucá é um dos principais articuladores do governo junto ao Congresso Nacional e tinha entre suas funções angariar apoio às medidas econômicas da equipe de Temer.
O Banco Central não anunciou até agora qualquer intervenção cambial, mantendo-se ausente do mercado pela quarta sessão consecutiva.