Boom da energia eólica no Brasil pode esbarrar em crédito escasso, dizem bancos

SÃO PAULO (Reuters) - O forte crescimento esperado para a energia eólica no Brasil nos próximos anos terá que passar pelo desafio de um cenário bem mais restrito para a obtenção de financiamentos, alertaram especialistas de bancos privados em evento do setor realizado nesta quarta-feira em São Paulo.

A principal preocupação é com uma redução do papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em meio a um cenário de restrição fiscal do país e um novo governo menos voltado ao massivo financiamento estatal de investimentos.

A Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) estima que as usinas da fonte deverão quase dobrar a capacidade no país até 2019, ante os cerca de 9 gigawatts atualmente em operação, o que demandará pesados investimentos. Apenas em 2015 a entidade estima que o segmento investiu cerca de 20 bilhões de reais.

"O papel do BNDES, a impressão que a gente tem é que deve mudar. Ele deve continuar relevante para projetos no Brasil, mas não com a participação que vinha tendo até então, e a gente precisa ser criativo para ver como financiar os projetos", afirmou o chefe de project finance em energia do Itaú, Marcelo Girão.

O chefe da área de financiamentos a energia do Santander, Edson Ogawa, disse que o BNDES já tem sido mais lento em liberar financiamentos, principalmente devido à grande demanda dos empreendedores, o que gera maior necessidade de empréstimos-ponte junto a bancos privados e emissões de debêntures para financiar as obras.

Mas a forte demanda por essas operações em um momento mais restritivo das instituições financeiras deve prejudicar principalmente empresas menos consolidadas no mercado ou em dificuldades financeiras.

"Podemos viver um cenário em que há mais demanda por crédito do que oferta... É importante ressaltar que na nossa visão projetos bem estruturados e bem planejados terão seus financiamentos, mas talvez algumas estruturas (de financiamento) que os bancos aceitavam em momentos de maior liquidez não serão mais aceitas", afirmou Ogawa.

Ele prevê um grande desafio para os empreendedores na emissão de debêntures de infraestrutura, operação que foi incentivada pelo BNDES nos últimos anos como uma alternativa ao financiamento apenas pelo banco estatal.

"Minha opinião um ano atrás era mais otimista que hoje... A crise econômica afeta diretamente o apetite do investidor por esse tipo de papel, e em um cenário de volume muito grande de operações, hoje é menos certo que haverá investidores para todos projetos", afirmou Ogawa.

Para Girão, do Itaú, esse cenário mais restrito deve forçar o BNDES a analisar com cuidado uma eventual redução de recursos para o setor eólico.

"Olhando os bolsos que a gente tem disponíveis dentro do Brasil, o maior ainda é o BNDES. A redução da participação dele é algo natural...(mas) tem que acontecer paulatinamente, não dá pra simplesmente tirar da tomada, porque não temos uma solução pronta", afirmou.

(Por Luciano Costa)

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