Ministério Público investiga obras de instalações olímpicas por suspeita de corrupção

Por Brad Brooks

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Ministério Público Federal ampliou sua investigação a todas as obras de instalações olímpicas e serviços que contaram com recursos federais para os Jogos do Rio por suspeitas de corrupção.

"Temos uma investigação aberta sobre as obras no Parque Olímpico e também na região da Deodoro onde estão localizadas instalações olímpicas", afirmou à Reuters o procurador federal do Rio de Janeiro Leandro Mitidieri, em entrevista em seu escritório.

A revelação amplia de forma significativa as investigações sobre suspeitas de corrupção envolvendo os Jogos do Rio, em agosto. Até o momento os inquéritos se concentravam em obras dos chamados projetos de legado, que não são diretamente ligados à Olimpíada.

Quando o Rio foi escolhido para sediar os primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, em 2009, esperava-se que o evento fosse uma vitrine para exibir o crescimento do Brasil como uma potência global, mas, em vez disso, a Olimpíada vai acontecer em meio ao processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, com a economia do país na pior recessão das últimas décadas e em meio a um surto de Zika que têm provocado enormes preocupações de saúde.

O procurador Mitidieri disse que sua equipe também está investigando o que aconteceu com os fundos federais destinados para a despoluição da Baía de Guanabara, onde acontecerão as provas olímpicas de vela, e das lagoas da Barra da Tijuca que cercam o Parque Olímpico.

Esses corpos de água têm sofrido com enorme contaminação por despejo de esgoto e continuam bastante poluídos, apesar de as promessas feitas pelas autoridades de melhorar a qualidade dessas águas terem sido um fator importante na promessa de legado dos Jogos.

Outra equipe de procuradores federais, em parceria com a Polícia Federal, está investigando se a companhia estadual de água do Rio, a Cedae, cometeu crimes ambientais ao não tratar corretamente o esgoto da região metropolitana do Rio.

Mitidieri não disse se sua equipe encontrou alguma prova de corrupção até o momento, mas acrescentou que anúncios detalhados sobre os resultados das investigações serão feitos nas próximas semanas.

"Não são apenas os trabalhos físicos que nós estamos olhando -- são os contratos para serviços, segurança, tudo que usou fundos federais", disse Mitidieri.

Cinco empreiteiras são responsáveis pela maior parte das obras orçadas em 39 bilhões de reais de infraestrutura e de arenas esportivas dos Jogos do Rio, que incluem 1,76 bilhão de reais em recursos federais só para os projetos voltados exclusivamente para a Olimpíada, de acordo com dados do Tribunal de Contas da União (TCU).

Todas essas cinco empresas estão envolvidas no escândalo de corrupção na Petrobras investigado pela operação Lava Jato, que em dois anos de investigação levou para a prisão executivos das empreiteiras, agentes políticos, ex-funcionários da estatal e operadores financeiros, entre outros envolvidos.

A operação Lava Jato foi o que levou a Polícia Federal e os procuradores do Rio de Janeiro a buscar possíveis casos de corrupção relacionados aos Jogos Olímpicos.

As autoridades já disseram que estão investigando o projeto de renovação da região portuária do Rio, chamado de Porto Maravilha, com custo estimado em 8 bilhões de reais, e a expansão do metrô da cidade até a Barra da Tijuca.

Documentos judiciais divulgados em março revelaram que a polícia encontrou referências da empreiteira Odebrecht [ODBES.UL] a pagamentos de suposta propina de 1 milhão de reais relacionada a esses dois grandes projetos de legado.

A Odebrecht, que está no centro do escândalo na Petrobras, está envolvida em metade de todos os projetos olímpicos em termos de valores, de acordo com contratos analisados pela Reuters.

A Odebrecht disse por e-mail que não vai comentar a reportagem.

Mitidieri se recusou a fornecer detalhes sobre exatamente quais companhias estão sendo investigadas pelo Ministério Público Federal, mas notou que OAS [OAS.UL] e Queiroz Galvão tiveram "bastante atividade" na região de Deodoro, que será o segundo centro de instalações olímpicas.

A OAS não respondeu a pedidos de comentários. Uma porta-voz da Queiroz Galvão escreveu em um e-mail que a empresa não havia sido notificada sobre a investigação e não tinha mais comentários.

A Prefeitura do Rio supervisiona a maioria dos projetos de construção dos Jogos, mas alguns são financiados pelos governos federal e estadual. A prefeitura informou que a maioria dos contratos foi financiada por recursos privados e que todas as licitações foram analisadas por órgãos de fiscalização.

O comitê organizador Rio 2016 transferiu questionamentos à prefeitura, enquanto o gabinete do prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que não comentaria sem saber exatamente quais contratos estão sob investigação. Acrescentou, em um e-mail, que todos os contratos foram feitos de forma transparente.

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