DIs curtos sobem após BC adotar tom duro; curva precifica de vez queda da Selic em outubro

Por Bruno Federowski

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos contratos de juros futuros mais curtos fecharam com forte alta nesta terça-feira, praticamente eliminando as chances indicadas pela curva de corte da Selic em agosto, após o Banco Central aumentar sua projeção de inflação para este ano e informar que buscará mantê-la dentro dos limites da meta do governo em 2016.

Com isso, cresceram ainda mais as chances de que o afrouxamento monetário só comece em outubro, com a curva mostrando a Selic terminando o ano a 13,25 por cento, frente aos atuais 14,25 por cento. Já os DIs mais longos recuaram, refletindo a recuperação dos mercados globais após dois dias de mau humor provocado pela decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia (UE).

"É uma comunicação mais dura, deixa claro que o BC só vai discutir corte de juros concretamente quando tiver certeza de que a inflação está na direção correta", disse o operador da corretora Renascença Thiago Castellan Castro.

O BC informou no Relatório de Inflação que elevou a projeção de alta do IPCA neste ano a 6,9 por cento, mas que buscará deixá-la dentro da meta oficial --de 4,5 por cento, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Sobre 2017, reduziu suas contas sobre a inflação, a 4,7 por cento, e afirmou que pretende trazê-la para o centro do objetivo. Reiterou ainda que não vê espaço para cortes de juros no curto prazo.

Até a véspera, os DIs vinham mostrando chances levemente majoritárias de a Selic começar a ser reduzida em outubro, com chances menores de que isso acontecesse em agosto. Nesta sessão, a curva passou a indicar dois cortes de 0,50 ponto percentual na taxa a partir de outubro, praticamente acabando com as chances de redução na reunião anterior.

O documento fez com que, por exemplo, o Bradesco mudasse sua projeção para início do ciclo de flexibilização monetária, passando a ver agora o primeiro corte da Selic em outubro e não mais em agosto, encerrando o ano em 13,25 por cento.

O presidente do BC, Ilan Goldfajn, reforçou o tom do documento divulgado mais cedo, com operadores interpretando suas declarações como duras no combate à inflação. Ele destacou que as expectativas de inflação do BC para 2017 estão em torno do centro da meta, que não há necessidade de fazer ajuste no objetivo do ano que vem e que reduções na Selic têm que ocorrer de "forma responsável".

"Isso foi crucial para a parte curta da curva (de juros) porque deu ao mercado a indicação de que ele não vai se apressar para cortar juros", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.

Ilan também reforçou a importância da aprovação de medidas fiscais pelo Congresso Nacional para contribuir na redução das expectativas para a inflação.

A manutenção da Selic em patamares elevados por mais tempo poderia abrir espaço para mais cortes no longo prazo, perspectiva que trouxe alívio aos DIs longos.

Também contribuiu para esse movimento a busca por barganhas nos mercados globais, com investidores voltando a comprar ativos de maior risco após a onda de pessimismo que marcou os dois últimos pregões.

A decisão do Reino Unido de deixar a UE provocou preocupações com possíveis impactos sobre a economia global e instabilidade política na Europa, deprimindo o apetite por papéis de países como o Brasil.

A taxa do DI para janeiro de 2017 encerrou com alta de 0,19 ponto percentual, enquanto a taxa do contrato para janeiro de 2021 caiu 0,16 ponto percentual.

(Reportagem adicional de Flavia Bohone; Edição de Patrícia Duarte)

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