Demanda por energia elétrica cai menos que previsto, dizem operadores; preços sobem

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - A demanda por energia elétrica tem caído em ritmo inferior ao previsto anteriormente neste ano, o que deverá forçar o governo a rever projeções anteriores, com impacto nos preços da eletricidade negociada tanto no mercado spot quanto em contratos de longo prazo, afirmaram operadores à Reuters.

Essa perspectiva, inclusive, já movimentou o mercado livre de eletricidade, no qual grandes clientes, como indústrias, negociam contratos diretamente com usinas de geração ou comercializadoras-- o preço dos contratos convencionais para 2017 subiu quase 15 por cento na última semana, para cerca de 150 reais por megawatt-hora.

Em maio, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projetaram uma redução de 2,4 por cento na carga de energia neste ano frente a 2015.

Mas a comercializadora de energia América, por exemplo, trabalha com cenário no qual 2016 fecharia com carga estável ante o ano passado ou com queda inferior a 1 por cento.

"A carga teria que cair uma enormidade no segundo semestre para reduzir o que estava previsto (por EPE e ONS). Não é o caso, não é o caso mesmo, até porque agora o país está em um compasso de espera para melhorar. Cair mais não vai", afirmou o presidente da América, Andrew Frank.

As projeções oficiais de EPE e ONS são utilizadas para calcular os preços spot da energia elétrica, também conhecidos como Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que influenciam também as cotações de prazo mais longo.

"Se mexerem na carga que hoje está no modelo... o PLD aumentaria. É isso que no momento está inflacionando o valor da energia... O preço de longo prazo que vinha até então em 130 reais por megawatt-hora já inflacionou para 150 reais por megawatt-hora", disse o diretor comercial da Iguaçu Energia, Laudenir Pegorini.

As projeções oficiais são atualizadas a cada quatro meses, mas já há no mercado quem aposte que essa mudança de cenário no consumo pode apressar a revisão.

"Podemos ter para o próximo mês ou em agosto uma revisão de carga", afirmou o diretor de Regulação da consultoria Safira Energia, Fábio Cuberos, destacando que as últimas revisões das projeções também acabaram antecipadas.

Na semana passada, o ONS divulgou dados preliminares que apontam alta de 1,8 por cento na carga de energia em junho, na comparação com mesmo mês de 2015. [nE6N18A00R]

No acumulado dos últimos 12 meses, a carga apresenta queda de 0,9 por cento, segundo o ONS, ante queda acumulada de 1,5 por cento no boletim divulgado em junho.

MAIS ELEVAÇÕES NO RADAR

O mercado de energia elétrica também prevê futuras altas nos preços após autoridades de governo reunidas no Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) terem divulgado na semana passada nota que fala sobre a intenção de trazer maior "realismo" ao cálculo do PLD.

Segundo o CMSE, serão estudadas mudanças na formação dos preços, como os parâmetros que guiam o despacho de termelétricas e a consideração de cronogramas mais próximos da realidade para projetar a entrada em operação de usinas e linhas de energia.

Para Cuberos, da Safira, o cálculo mais realista citado pelo comitê faz sentido diante do discurso pró-mercado do governo interino do presidente Michel Temer, e geraria uma elevação nos preços quando aplicado.

"Estão querendo aprimorar (o cálculo dos preços). Esse governo interno está indo bastante na linha do realismo tarifário... É difícil calcular quanto, mas em todos casos elevaria (o PLD), mas com impacto maior no começo, no curto prazo, e mais atenuado lá na frente", disse.

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