ESTREIA-"Nerve: Um jogo sem regras" é um suspense competente apesar dos clichês
SÃO PAULO (Reuters) - Para quem gosta de seu filme sobre assuntos do momento, nada mais tópico do que “Nerve: Um jogo sem regras”, sobre os perigos da realidade virtual, realidade aumentada, ou qualquer outra esfera que combine o mundo real e o ambiente digital.
É bem verdade que o filme se resolve de maneira levemente moralista e a sua “mensagem” é um tanto óbvia, mas os diretores Henry Joost e Ariel Schulman fazem tudo isso de forma tão competente que é possível até esquecer os pequenos furos do roteiro, assinado por Jessica Sharzer, a partir de um romance homônimo de Jeanne Ryan.
Vee (Emma Roberts) é uma adolescente certinha, que está terminando o colegial, prestes a entrar na faculdade, mas não tem coragem de ir para sua escola dos sonhos, longe da mãe (Juliette Lewis), que ainda sofre com a perda do filho mais velho. A garota, no entanto, pretende provar para os amigos que não é tão reprimida como todos pensam e aceita participar de um jogo virtual chamado Nerve.
Nele, as pessoas se inscrevem como Jogadores ou Observadores. Os jogadores, para ganhar dinheiro e seguidores, submetem-se a desafios propostos pelos colegas. As tarefas incluem desde coisas banais como provar um vestido caro, como outras que ameaçam a integridade dos participantes.
Por conta do jogo, Vee acaba formando uma parceria com Ian (Dave Franco), quando percebem que juntos podem ganhar muito dinheiro e seguidores, embora os desafios também sejam maiores. Tudo é bastante divertido para eles até que as tarefas se complicam e suas vidas passam a correr risco.
A dupla de diretores fez em 2010 um documentário chamado “Catfish”, no qual investigavam a construção de uma identidade virtual falsa. E é exatamente esse o centro moral de “Nerve”. O que o filme sustenta – e não é nenhuma novidade – é que na internet as pessoas se escondem por trás de um perfil falso, numa segurança ilusória de que jamais serão descobertas, e são capazes de falar (ou até cometer) as maiores atrocidades, de que “na vida real” não teriam coragem.
Enfim, não há nada de novo na lição de moral ou no comentário que “Nerve” faz sobre o mundo contemporâneo (especialmente quando diz que as grandes empresas usam dados que disponibilizamos voluntária e gratuitamente na internet para, no mínimo, tentar nos vender algo). Por outro lado, tudo isso é entregue numa embalagem tão freneticamente competente que é impossível não se envolver com o longa e esquecer suas obviedades.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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