Brasil começa "semana da vergonha", diz Lula sobre início de julgamento de Dilma

NITERÓI (Reuters) - O ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quinta-feira, dia em que começou o julgamento final do impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, que o Brasil entra na "semana da vergonha nacional" que pode culminar na cassação de, segundo ele, uma "mulher inocente".

Em discurso em Niterói, no Rio de Janeiro, Lula disse que Dilma pode ter cometido erros, como qualquer outro político, mas defendeu a inocência da petista, que está sendo acusada de crime de responsabilidade, e disse que os defensores da cassação definitiva da presidente afastada querem chegar ao poder sem disputar eleições.

“O que estão fazendo é descobrir um jeito de chegar ao poder sem precisar disputar voto popular... está começando a semana da vergonha nacional, com a tentativa do impeachment da Dilma no Senado”, disse Lula.

“Não estão cassando a Dilma, mas o voto que vocês deram em 2014... como brasileiro estou envergonhado em ver que o nosso Senado está discutindo a condenação de uma pessoa inocente.”

Lula admitiu que Dilma pode ter cometido erros, como qualquer político, mas disse que ela não cometeu nenhuma ilegalidade que pudesse abrir espaço para um processo de afastamento.

"Hoje começa a vergonha nacional e senadores começam a rasgar a Constituição do país. A Dilma cometeu o crime de ser honesta. Obviamente, pode ter cometido erros, mas quem não comete erros? Quem? O Obama e todos eles!”, disse Lula

Lula, que participou de dois eventos no Rio de Janeiro, um com metalúrgicos, em Niterói, e outro com a candidata a prefeitura do Rio pelo PCdoB, a deputada federal Jandira Feghali, revelou estar triste com antigos aliados que votaram a favor do afastamento de Dilma ou apoiaram a saída temporária da petista do governo.

O ex-presidente citou nominalmente o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que foi ministro de Dilma, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), e o deputado federal Marco Antônio Cabral (PMDB-RJ), filho do ex-governador Sérgio Cabral Filho.

“Estranho um companheiro como o Crivella, que eu apoiei para senador em 2014 e que fala tanto em nome de Deus, não pode cometer uma deslealdade dessa forma”, disse Lula em discurso.

“Fiquei muito triste com o comportamento do prefeito do Rio de Janeiro e com o filho do Sérgio Cabral”, disparou.

Ao ser questionado se poderia ser novamente candidato a presidente pelo PT em 2018, Lula deixou a possibilidade em aberto e afirmou apenas: “vamos ver”.

Sobre a operação Lava Jato, que investiga um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, Lula criticou o que chamou de "mentiras" contadas por delatores que firmaram acordos de colaboração com a Justiça e disse não temer ser investigado.

“O que não pode é ter gente que pegou dinheiro e foi, contou meia dúzia de mentiras na delação premiada, e está em liberdade fumando charuto cubano às nossas custas”, disse.

“Estou há dois anos sendo investigado. Não tem problema. Podem investigar mais dois anos, mas não prejudiquem os trabalhadores brasileiros... Se alguém pensa que vai me assustar fazendo ameaça está enganado”, garantiu.

(Reportagem de Rodrigo Viga Gaier)

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