Depoimento de Dilma no Senado na 2ª deve escalar tensão entre senadores
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Ato derradeiro antes da votação final do impeachment, o depoimento da presidente Dilma Rousseff, na segunda-feira, promete ser ainda mais tenso do que vêm sendo as sessões do julgamento da petista no Senado, apesar da tentativa de alguns em serenar os ânimos.
Advogado da presidente afastada, o ex-ministro da Justiça e da Advocacia-Geral da União José Eduardo Cardozo afirmou não temer que o depoimento se transforme em mais uma batalha no Senado.
"A presidente vai fazer um discurso de estadista. Não terá provocação", afirmou.
A julgar pelos dois dias de depoimentos de testemunhas até aqui, no entanto, dificilmente deixará de haver duros embates no plenário.
"Se alguém levantar o tom com ela, nós vamos responder. Qualquer ação vai gerar uma reação, está tudo à flor da pele", afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
"Acho que vamos ter um debate muito forte, mas não dá para prever se vai sair do controle. Pela tensão que está no plenário, não é impossível."
No domingo, líderes da base governista vão fazer uma reunião para traçar uma estratégia para o depoimento de Dilma. Fontes do Senado afirmam que o próprio presidente interino Michel Temer participaria do encontro, o que o Planalto nega.
O encontro seria para traçar uma estratégia para os questionamentos à presidente afastada e também para tentar evitar que uma agressividade maior acabe colocando Dilma no papel de vítima.
O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), defende que se evite perguntas.
"Eu defendo com muita clareza que a presidente vem aqui fazer sua defesa para marcar posição. Se depender da minha opinião, não devemos fazer perguntas. Não vai mudar a posição de ninguém. Se puder evitar um clima mais tenso, melhor. O processo é difícil para os dois lados", defendeu.
Essa, no entanto, não é a posição do líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), que defende o direito da base governista questionar Dilma. Caiado afirma que o tom subirá a depender do que será dito pela presidente e pelos seus defensores.
"O tom vai ser o que eles derem", disse o senador, um dos mais beligerantes em plenário. "Se subir muito vamos trazer aquele muro lá de fora aqui para dentro", brincou numa referência ao muro montado do lado de for a do Congresso para separar manifestantes favoráveis ao impeachment dos contrários ao impedimento.
Nos dois dias de depoimento, o clima entre base e oposição esquentou várias vezes, com bate-bocas entre senadores, xingamentos e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que preside o julgamento, tendo que suspender a sessão para acalmar os ânimos.
No entanto, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) --depois de pessoalmente se envolver em uma discussão com a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR)--, avalia que o clima será melhor que o desta sexta-feira.
"Isso é um ponto fora da curva para o Senado. Aqui as pessoas se agridem civilizadamente", brincou.
Durante o depoimento de Dilma, pela primeira vez as galerias do Senado serão tomadas por espectadores. Nesta sexta-feira, Renan autorizou a entrada para as galerias do plenário de 32 convidados da presidente afastada. Na lista, boa parte dos seus ex-ministros, o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Chegou-se a cogitar que o ex-presidente assistisse ao depoimento em um dos gabinetes, para evitar o tumulto que normalmente sua presença causa, mas Lula afirmou que quer ficar na galeria com os demais convidados.
O presidente do Senado afirmou que, para dar igualdade aos dois lados, permitiu que a bancada governista traga o mesmo número de pessoas, mas não se sabe ainda se realmente acontecerá e quem seriam esses convidados. No meio, servindo de muro entre os dois grupos, estarão fotógrafos e cinegrafistas, além de seguranças da Casa.
Dilma poderá falar por até uma hora. Depois disso, será inquirida pela defesa e pela acusação, e então por todos os senadores que se inscreverem para falar. Será o último depoimento do processo.
Em seguida, começará o processo de votação, com cada senador podendo falar por 10 minutos. A previsão no Senado é que isso aconteça ao longo da terça-feira, com a votação em si na madrugada de quarta-feira.