Engevix e Queiroz Galvão têm dificuldades para vender ativos em energia
Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - As empreiteiras Engevix e Queiroz Galvão têm enfrentado dificuldades na busca por compradores para seus ativos no setor de energia, segundo três fontes próximas às negociações e um documento oficial visto pela Reuters, em meio a investigações em andamento sobre as empresas e um cenário político ainda turbulento no país.
Com investimentos bilionários no setor, as empresas colocaram ativos à venda em meio a dificuldades financeiras após serem envolvidas em investigações da Operação Lava Jato, que apura casos de propina em estatais, empresas privadas e partidos políticos.
Segundo um documento do Ministério de Minas e Energia visto pela Reuters, a Engevix enfrenta "grandes dificuldades financeiras" e tem tentado "sem sucesso" vender a hidrelétrica de São Roque, atualmente em construção em Santa Catarina.
No documento, o ministério aponta que atualmente não há previsão de conclusão da usina de cerca de 140 megawatts, que foi licitada em 2011 e precisaria ter entrado em operação neste ano. As obras foram paralisadas em meio à crise financeira da Engevix.
Duas fontes que participam das negociações disseram à Reuters, sob a condição de anonimato, que tem havido pouco avanço na tentativa de encontrar comprador para a usina.
Já a Queiroz Galvão também tem enfrentado dificuldades para negociar sua subsidiária de energia, que possui parques eólicos, hidrelétricas de médio e pequeno porte e usinas a biomassa.
A Queiroz Galvão estima que seus ativos de energia receberam aportes de 4 bilhões de reais, enquanto a hidrelétrica de São Roque, da Engevix, é orçada em cerca de 700 milhões de reais pela companhia.
NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL
A Reuters já havia publicado em junho de 2015 o interesse da companhia em buscar um "sócio estratégico" para os ativos em energia. [nL1N0ZG0WM]
Segundo três fontes, que falaram sob a condição de anonimato porque as negociações são privadas, as chinesas State Grid e Three Gorges estão entre interessados, assim como a canadense Brookfield.
Do lado dos chineses, segundo uma fonte, há interesse, mas também cautela diante do ambiente político do Brasil.
"Eles acreditam que não têm porque não esperar mais... dar uma segurada porque pode acontecer alguma coisa no cenário político e impactar em dólar, em preço", afirmou a fonte.
A segunda fonte disse que há também, ao menos por parte dos canadenses, uma tentativa de barganhar o preço dos ativos, dada a presença da Queiroz Galvão entre as empresas investigadas na Lava Jato, que poderia levantar riscos de problemas futuros para um eventual comprador.
"Tem que ter preço... não adianta, para quem vai vender? Senão vai morrer abraçado (com os ativos)", afirmou.
Em agosto, a Queiroz Galvão se tornou o alvo principal de uma nova fase da Operação Lava Jato, com profissionais envolvidos nas acusações lançando graves acusações de crimes contra a companhia. [nE6N19M063]
De acordo com a primeira fonte, os riscos de compliance associados ao envolvimento da Queiroz Galvão na Lava Jato preocupam os interessados e estão no radar, mas não devem impedir um negócio. "Eles sabem com o que estão se metendo", disse.
Procuradas, a Engevix e a Queiroz Galvão Energia disseram que não comentariam o assunto.
A Three Gorges disse que está atenta a oportunidades no Brasil, mas não comenta projetos específicos. State Grid e Brookfield preferiram não comentar.