ESTREIA-Jacob Tremblay vive menino com dom de materializar sonhos no suspense "O Sono da Morte"
SÃO PAULO (Reuters) - “Os seus sonhos podem se tornar realidade” serve de frase de motivação para tantas pessoas que já se tornou até um clichê piegas. Mas, para Cody, o menino especial vivido por Jacob Tremblay em “O Sono da Morte”, a afirmação é literalmente verdadeira.
O ator mirim, que encantou a todos pelo talento e o carisma em “O Quarto de Jack” (2015), havia filmado bem antes este longa de Mike Flanagan, diretor que vem fazendo seu nome dentro do terror, com O Espelho (2013) e Hush: A Morte Ouve (2016), lançado diretamente na Netflix.
Talvez por isso tenha se optado pela estratégia de divulgação errada de atribuir seu “novo” trabalho ao mesmo gênero, sendo que a história dos pais que perderam o filho e decidem adotar uma nova criança peculiar está mais para um suspense dramático com toques fantásticos do que para o horror.
Em certa medida, apesar de guardar semelhanças com sua própria filmografia, a obra de Flanagan segue um caminho visto recentemente em “Boneco do Mal” e, especialmente, em “Mama”.
Os pais ainda com dificuldades para assimilar a morte do pequeno Sean (Antonio Romero), após um acidente domiciliar, são interpretados por uma dupla de atores com experiência na área do terror e do suspense. Kate Bosworth, de “Sob o Domínio do Medo” e “Terror na Ilha”, e Thomas Jane, de “O Nevoeiro” e “O Apanhador de Sonhos”, são o casal Jessie e Mark, que adota Cody, um menino que, apesar da tenra idade, já sofreu o trauma de ser abandonado por algumas famílias. Esta é a causa a que seus novos responsáveis atribuem para seus distúrbios do sono.
Mas o garoto tem os seus motivos para até se beliscar a fim de não dormir de qualquer modo: seus sonhos se materializam ao seu redor, em formas magnificamente belas. Porém, seus pesadelos podem ser mortais.
É interessante como todos os personagens principais têm de superar o luto de algum jeito e o fazem de maneiras diferentes. A óbvia discussão do sentimento de substituição envolvido nesta adoção mistura-se com a exploração realizada por Jessie ao descobrir que Cody pode ser uma chave para ela ter o filho de volta.
O roteiro psicológico de Mike e Jeff Howard, seu parceiro no texto de “O Espelho”, deixa o subconsciente do menino aflorar em bonitas imagens oníricas, condizentes com o nível de apreensão de uma criança em cada fase de sua vida – vide o aperfeiçoamento das formas das borboletas, tão amadas pelo garoto e que em sua natural transformação representam uma clara alegoria com o seu amadurecimento e a necessidade dos três de se transformar no meio da dor.
Contudo, se a concepção visual realizada até então é eficiente, a figura do Homem-Cancro, bem diferente do colega de pesadelo Freddy Krueger, vai perdendo seu poder aterrorizante no decorrer da trama. O clímax é quase um anticlímax, não pela resolução sentimental, que encontra uma justificativa muito mais terrena do que sobrenatural, mas pela confusa e pouco impactante construção da sequência.
Flanagan também apresenta dificuldades para encontrar o tom entre o drama e os sustos, mesmo com a competência de Bosworth e a capacidade de gerar empatia de Tremblay. A irregularidade da narrativa não impede, no entanto, que a mensagem chegue de maneira direta para o público, particularmente àqueles que encontrarem nela certa identificação por alguma perda pessoal.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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